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  29 de novembro
  Ilusões perdidas
 
Anos atrás, cobri como jornalista uma conferência de Zé Miguel Wisnik sobre "Ilusões Perdidas", o romance de Balzac, e o jornalismo cultural contemporâneo.

Fui menos isento do que deveria. Wisnik vinha de ser atacado pelo crítico musical Luís Antônio Giron, colega de redação, e eu vi na conferência _e no paralelo com o jornalismo cultural balzaquiano_ um contra-ataque ao nosso jornalismo crítico. Mal sabia eu.

Muita coisa passou, trabalhei com o mesmo Wisnik num espetáculo de Genet, eu como assistente de direção, ele como diretor musical, compositor e cantor. Relendo o livro, semanas atrás, com olhos já muito distanciados, encontrei mais verdade do que gostaria.

Luciano, o protagonista, vive uma trajetória não muito diferente da minha, de jovem da província a crítico de teatro etc. É evidente que, por mais que me sinta distanciado, ainda acho Luciano uma caricatura, não a realidade.

Mas está tudo lá, como que distorcido pela visão do artista, o que é o jornalismo _em especial o cultural, mas não só ele. Da descrição do jornalista como "a pessoa que explora uma mina de mercúrio sabendo que ali há de morrer" até os ensinamentos de crítica do primeiro editor de Luciano:

_ Meu caro, aprende teu ofício. Qualquer obra, mesmo uma verdadeira obra-prima, deve tornar-se sob a tua pena uma estólida bobagem. Transformarás as belezas em defeitos.

Daí segue para uma aula, por assim dizer, brilhante. Depois do estrago publicado, novos conselhos, de vários:

_ Pensavas então aquilo que escreveste? Ah! Meu filho, eu te julgava mais forte. Todas as idéias têm direito e avesso. Tudo é bilateral no domínio do pensamento. As idéias são binárias. Jano é o mito da crítica. Triangular não há senão Deus! Escreve para o jornal três belas colunas em que te refutes a ti mesmo. Neste momento és, a seus olhos (do artista), um espião, um canalha, um tolo; depois de amanhã serás um grande homem, uma cabeça forte, um varão de Plutarco!

_ Meus amigos, palavra de homem honesto, sou incapaz de escrever duas palavras de elogio...

_ Terás mais de cem francos.

_ Mas que hei de dizer?

_ Escuta aqui, de que modo podes te arranjar, meu filho...

E segue outra aula brilhante, agora de como exaltar a mesma obra, no que hoje seria descrito como relativismo. É uma caricatura, obviamente, como o são outras passagens, ainda mais constrangedoras de citar. Foi o que Wisnik apontou, não sem certo rancor, na conferência.

O que se pode dizer em favor do jornalismo cultural _e dos demais_ é que esse não é seu único papel, sua única dramaturgia. Ele tem outras, que é preciso trazer para a boca de cena, para não se deixar levar pela desilusão.

Não é por desilusão, mas com este texto eu deixo de escrever regularmente para a Pensata. Há alguns meses, tornei-me editor da Ilustrada e não vinha conseguindo escrever com a dedicação que os meus poucos e pacientes leitores merecem. Semana passada, nem consegui enviar o texto a tempo. Deixo um abraço a todos.


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