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Marcelo Coelho
  1º de dezembro
  Hasta la vista
 
   
Até parece combinado. Pouco tempo depois de Eduardo Suplicy apresentar-se como candidato à Presidência, Lula se engaja numa visita a Cuba que certamente não acrescenta nada a seu currículo nem à imagem mais flexível que o PT vem adquirindo nos últimos tempos.

Com todo o respeito a Lula, que sempre lutou pela democracia no país, sua viagem a Cuba termina por fossilizá-lo de vez. Lula se transforma num símbolo "intocável", numa estampa como a de Che Guevara, mas simplesmente deixa de fazer parte do mundo político.

Assim como os líderes chineses, que continuam se dizendo comunistas enquanto caminham decididamente rumo à sociedade de mercado, o PT continua prestando reverências a Lula, assim como Lula presta reverências a Fidel, menos pelo que isto implique em reais opções para a sociedade brasileira e mais por uma questão de identidade simbólica e ideológica.

O que significa a ditadura de Fidel Castro no mundo contemporâneo? Mais uma imagem de teimosia, um posto de resistência à globalização do que um modelo de sociedade minimamente aceitável para qualquer país. Tudo bem que se lute contra o neoliberalismo; mas recorrer a Fidel Castro para representar essa luta é uma atitude que deriva do fetichismo, da superstição, do culto vudu.

Como sempre, são pouquíssimo convincentes as réplicas de Lula à constatação de Cuba vive num regime ditatorial. Não é de agora que se afirma que o PT, a esquerda, os socialistas não vêem em Cuba um modelo a ser imitado, pois "cada país encontra suas próprias soluções, seu próprio caminho". A frase é tão verdadeira quanto inócua. Pois de nada adianta dizer que teremos um "caminho próprio" para a correção das injustiças sociais se não nos posicionamos com clareza a respeito de que tipo de caminho é esse.

Imagine-se se, em 1938, Plínio Salgado visitasse Hitler, trocasse presentes com ele, posasse para fotos e acenasse para o público num ato oficial. Poderia muito bem voltar dizendo que não queria para o Brasil o modelo nazista, que o Integralismo quer soluções próprias para o reerguimento nacional, etc. Mas o ato de visitar Hitler seria significativo em si, muito mais do que as ressalvas e nuances que o acompanhassem.

Cuba é uma ditadura, e ponto final. Ah, mas o sistema educacional, o sistema de saúde... claro, podem ser melhores que o que temos no Brasil. Mas imagine alguém dizendo, nos anos 30, que, claro, Hitler é um ditador etc., mas o reerguimento econômico... o sistema educacional... o sistema de saúde... tudo aquilo devia ser uma beleza também.

Com acertada ironia, Lula respondeu, aos que o criticam por andar de braços dados com Fidel, que Fernando Henrique apoiou Fujimori. OK. Mas o raciocínio é esquisito. Em primeiro lugar, traz consigo a admissão de que Fidel é ditador mesmo. Em segundo lugar, sugere que o importante é andar de braços dados com o ditador certo.

De qualquer modo - ainda que a sustentação dada por FHC a Fujimori tenha sido um dos piores momentos deste governo que celebra a todo minuto, como se fosse triunfo, a destruição de qualquer resquício de honradez intelectual - pode-se pensar que a "razão de Estado" pesou na atitude de Fernando Henrique. Haveria alguma vantagem do ponto de vista da predominância brasileira no continente em apoiar Fujimori. Não digo que houvesse. Mas pode-se ao menos pensar neste argumento.

Qual a "razão de Estado" na viagem de Lula? Não é presidente do Brasil. Foi porque quis, foi porque isso significa alguma coisa. Talvez signifique apenas o seguinte: não sou presidente da República, nem vou ser. É como se Lula abrisse mesmo o caminho para a discussão interna a respeito de outras candidaturas petistas em 2002. Nisso, prestemo-lhe a homenagem, ele está sendo bem democrático.



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