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03/10/2005 - 18h40

Animais selvagens dominam arquipélago de Galápagos

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha

"Você é iguana-marinha?", pergunta um senhor francês coberto de protetor solar. "Não, sou atobá-de-pés-azuis", responde uma jovem norte-americana, por trás de um sombreiro. Parece insensato, mas parte daí o diálogo inicial de entrosamento entre os turistas que chegam às ilhas Galápagos.

Roberto de Oliveira /FI
Lobo-marinho integra fauna
Lobo-marinho integra fauna
O visitante mal botou os pés no cruzeiro e já começa a se relacionar com seus reinantes: tartaruga-gigante, lobo-marinho, gaivota, pelicano, golfinho... Cada grupo de aventureiro recebe o nome das famosas espécies do arquipélago. A identificação será útil na hora de todas as atividades, de palestras sobre biologia à ocupação dos botes, que partem cada dia para uma ilha distante.

Essa familiaridade tende a crescer conforme a embarcação se desloca em direção à primeira paragem. Terra firme à vista, e lá está um bando de lobos-marinhos dando show de acrobacia aquática, ou, se tiver sorte, uma imensa tartaruga marinha flutuando na transparência azul do Pacífico. Quem manda em Galápagos, parecem avisar de forma lúdica, "somos nós".

Guias ligados à estação Charles Darwin, "garoto-propaganda" do arquipélago, prevêem que uma multidão de iguanas toma banho de sol nas pedras à beira praia. E lá estão elas, se revezando no mergulho atrás de seu alimento predileto, alga marinha. Em meio a uma explanação e outra, avisam quando um animal vai cortar a trilha, ou alertam quando um pássaro que sobrevoa a cabeça do visitante resolve, ali mesmo, despejar suas necessidades.

Roberto de Oliveira /FI
Iguanas tomam banho de sol
Iguanas tomam banho de sol
Mas nada é mais surpreendente do que poder se aproximar dos animais e conter a tentação de tocá-los. Como eles não se sentem ameaçados e não estranham a presença humana, ficam ali, indiferentes, sem dar a mínima bola para a torcida. Predadores não evoluíram nestas ilhas, e seus habitantes sentem-se seguros.

Você é quem deve desviar o percurso de um mergulho, por exemplo, por causa de um lobo-marinho ou dar uma volta completa porque uma fragata resolveu chocar seus ovos bem no meio da trilha. Abra bem os olhos e preste atenção por onde anda.

Galápagos é um dos raros lugares do mundo onde a natureza, literalmente, ainda se sobrepõe ao homem. Até mesmo no navio, rodeado por turistas do mundo inteiro, não se espante se tiver que mudar a espreguiçadeira de lugar, para fugir da sombra provocada por um pelicano, que resolveu "democratizar" o solário do cruzeiro. Afinal de contas, as embarcações que cruzam os mares do arquipélago equatoriano não se assemelham em nada àqueles grandes navios em mares caribenhos. São, na verdade, expedições ecológicas, com escasso agito noturno a bordo e total e irrestrito respeito às leis da natureza.

Roberto de Oliveira /FI
Pôr-do-Sol na ilha Fernandina
Pôr-do-Sol na ilha Fernandina
Situado no Pacífico, a cerca de 1.000 km da costa do Equador, o arquipélago é formado por 13 ilhas grandes e seis menores, numa área de 8.010 km2, o que corresponde ao tamanho de mais de cinco cidades de São Paulo --cerca de 95% do arquipélago é área de preservação.

São formações que estiveram isoladas do continente durante milhões de anos, fazendo com que a vida por lá evoluísse de modo diferente em relação ao resto do mundo. Formado por derramamentos de lava ocorridos há mais de 5 milhões de anos, ainda guarda recentes sinais de erupções, sendo que alguns de seus vulcões permanecem ativos.

Todo o arquipélago é um imenso espaço de procriação, alimentação e nidificação, ou seja, de criação de ninhos, um lugar onde atobás, fragatas, albatrozes e outros tipos de ave, peixe e réptil se acasalam e põem ovos aos montes. Das 5.000 espécies que vivem em Galápagos, 2.000 só podem ser encontradas lá. Só para ter uma idéia da incrível diversidade endêmica da área: 32% das plantas, 50% das aves, 25% dos peixes e simplesmente todos os répteis presentes só existem ali. É a segunda maior reserva marinha do planeta, só fica atrás da Grande Barreira de Corais, na Austrália.

O grande barato do arquipélago está nas atividades ao ar livre. A rotina dos ecoturistas é observar animais selvagens em seu habitat. Foram eles que deram e ainda mantêm a fama mundial do arquipélago, que atrai cerca de 100 mil pessoas por ano. Gente que sonha reviver a experiência do biólogo inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), que aportou por ali em 1835, a bordo do navio HMS Beagle, da Marinha Real Britânica.

A partir da observação da existência de animais nativos muito parecidos, mas de espécies totalmente distintas daquelas que viviam no continente, o cientista elaborou a teoria que viria a mudar os rumos da ciência, até então dominada por dogmas criacionistas, segundo os quais a explicação para a origem da vida é a que está na Bíblia.

Durante mais de um mês, o naturalista britânico passou a observar o comportamento dos animais. Com base nesse trabalho, fundamentou sua Teoria da Evolução das Espécies. Segundo ela, os bichos alterariam as suas características para se adaptar a um novo ambiente. Darwin revolucionou o conhecimento científico e até mesmo o entendimento da origem do homem. Quase 180 anos depois da visita do biólogo, Galápagos é um dos poucos lugares do planeta ainda pouco afetado pela devastação humana. Segue um dos maiores santuários naturais do mundo.

A maior ameaça aos bichos nativos são os animais domésticos, como cães e gatos, trazidos por forasteiros do continente, que comem ovos de tartarugas e iguanas, entre outros.

Tem mais. No começo deste ano, pescadores revoltados com as normas de controle impostas pelo governo equatoriano mataram, como represália, mais de 40 tartarugas-gigantes e deixaram os cascos à mostra, para assombro geral dos turistas.

Outro dano são os hábitos alimentares chineses. A China é o maior consumidor mundial de ingredientes provenientes de espécies selvagens. Os pescadores do arquipélago vendem ao mercado chinês barbatanas de tubarão. A sopa feita com o produto é considerada um poderoso afrodisíaco e é servida em casamentos tradicionais chineses. Festa e crendice popular do outro lado do planeta à custa de extermínio ecológico.

Coisa primitiva do bicho-homem, colocando em risco um dos mais importantes "laboratórios" a céu aberto disponíveis para o estudo da evolução biológica.

Roberto de Oliveira viajou a Galápagos a convite da cia. aérea Taca e da operadora Climb Tour Operator.

Serviço

CÂMBIO - O dólar norte-americano é a moeda oficial

QUANDO IR - De junho a novembro é o melhor período de mergulho por causa da quantidade maior de peixes. De dezembro a abril, é mais ensolarado, mas ocorrem pancadas de chuva quase diárias

INDISPENSÁVEL - Vacina contra febre amarela deve ser tomada dez dias antes do embarque. Para entrar em Galápagos, é cobrada uma taxa de US$ 100 (cerca de R$ 230) --para cidadãos do Mercosul, US$ 50

COMO CHEGAR- Vôos para Galápagos saem de Quito, capital do Equador, fazem escala em Guayaquil e pousam nas ilhas de Santa Cruz e San Cristóbal. A partir de US$ 398, pela equatoriana Tame (www.tame.com.ec). De São Paulo a Quito, com escala em Lima, a partir de US$ 852, pela Taca, tel. 0800-7618222 (www.taca.com)

DICA- Hospedadar-se em uma das embarcações que percorrem as ilhas é a melhor forma de conhecer o arquipélago. A empresa mais tradicional, a Metropolitan Touring, oferece três tipos de barcos com serviço de guias e refeição completa (www.metropolitantouring.com)

QUEM LEVA

Climb Tour Operator, tel. 5542-8166 (www.climb.tur.br). A partir de US$ 2.823. Inclui aéreos, traslados, hospedagem em apto. duplo, sendo três noites com café da manhã e city tour em Quito. Cruzeiro de quatro noites com pensão completa, alojamento em cabine e passeios diários com guias e assistência médica em Galápagos.

Donato Viagens, tel. 3846-2244 (www.donatoviagens.com.br). A partir de US$ 2.580. Inclui aéreos, traslados, hospedagem em apto. duplo, sendo duas noites com café da manhã e city tour em Quito. Hospedagem de quatro noites em apto. duplo com pensão completa, passeios com guias e assistência médica em Galápagos.

Pisa Trekking, tel. 5052-4085 (www.pisa.tur.br). A partir de US$ 3.049. Inclui aéreos, traslados, hospedagem em apto. duplo, sendo três noites com café da manhã e city tour em Quito, tour de três dias pela Avenida dos Vulcões com refeições e guias. Hospedagem de três noites com pensão completa em apto. duplo com passeios, guias e assistência médica em Galápagos.

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