Folha reestreia Folhateen, canal com conteúdo para o leitor adolescente

Projeto que nasceu em 1991 volta repaginado e vai propor interação via email, redes sociais e grupo de editores convidados

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São Paulo

A Folha reestreia nesta terça (16) o Folhateen, canal de conteúdo especial para o público jovem, que retoma a marca do suplemento lançado em fevereiro de 1991. O projeto original foi publicado até novembro de 2011, e agora oferecerá textos na edição online do jornal, com periodicidade semanal.

A edição do canal fica a cargo da jornalista Marcella Franco, também editora da Folhinha. As pautas abordarão temas como comportamento, sexo, cultura e saúde. O Folhateen também conta com a colunista Laura Muller, conhecida por seu trabalho de consultoria em sexologia no programa Altas Horas, da TV Globo, por 15 anos consecutivos.

Capa de estreia do caderno Folhateen, em 18 de fevereiro de 1991, que focava em assuntos ligados ao vestibular - Arquivo Folha

Idealizado nos anos 1990 pela hoje editora de seminários, treinamento e qualidade Suzana Singer, o Folhateen tinha como objetivo dar prosseguimento à relação com o leitor que já não consumia mais a Folhinha, mas que ainda não tinha idade suficiente para acompanhar as outras editorias do jornal.

"A Folhinha era pra criança, a Ilustrada tinha envelhecido e a 'escadinha' de entrada de leitores na Folha estava com um degrau faltando. A ideia era completamente maluca. Não tinha nada parecido no Brasil. Eu tinha 25 anos quando escrevi o projeto e editei o Folhateen. Estava recém-saído da adolescência", lembra o primeiro editor André Forastieri.

Quando chegou, ele conta, o suplemento já havia sido batizado. O jornalista Álvaro Pereira Jr. sugerira o nome, inspirado no antigo Folhetim, suplemento literário da Folha.

"O Folhateen foi um furacão de ar fresco na época. Atraiu novos anunciantes, atraiu novos leitores, e deu espaço para muitos novos jornalistas, novos talentos. Foi muito pioneiro e muito influente."

Entre os nomes que despontaram no caderno está Chico Felitti, autor de livros e podcasts como "A Mulher da Casa Abandonada", parceria entre Folha e Spotify. "Eu acho ótimo que o Folhateen volte", diz Felitti.

"Tem essas máximas de que adolescente não quer mais ler, daí você tem um boom de venda de livro puxado por gente que tem menos de 20 anos. Ou que adolescente não gosta mais de conteúdo longo, daí você tem um boom de podcasts de uma hora e meia, que exigem concentração, também puxado por pessoas dessa faixa etária", avalia.

"Essas máximas são sempre perigosas, elas generalizam. O conteúdo de qualidade está voltando a ser reconhecido, as pessoas estão começando a cansar de Ctrl-C, Ctrl-V, nem tudo é trend de TikTok, nem tudo é a mesma coisa repetida à exaustão."

Para o escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva, ex-colunista do Folhateen, falar com o jovem não é difícil. "O jovem é transparente, é aberto, é quase como uma pedra ainda a ser lapidada. E que quer ser lapidada, quer aprender, tem curiosidade, quer discutir, está aberto ao debate", acredita.

O jornalista Diogo Bercito, ex-repórter do Folhateen, entende que o desafio do canal em sua reestreia não é falar com os jovens, mas sim ouvi-los. "A gente precisa deixar de querer forçar os nossos interesses neles. É uma oportunidade para o jornal mostrar que os jovens têm sim interesse em ler, se a gente oferecer material de qualidade", diz.

"Tem também toda a parte simbólica de ver ressurgir um caderno que foi fundamental para minha formação como leitor e como escritor. Foi no Folhateen que entendi a importância de ser claro e explícito na escrita, de me comunicar bem com os leitores. Tenho um carinho enorme."

Convidar o leitor adolescente a se engajar com seu conteúdo, indo além dos enunciados, é parte da missão que o novo Folhateen encara, na opinião da ex-repórter e ex-editora do caderno, e hoje repórter especial da Folha Fernanda Mena.

"Com a chegada das redes sociais, a disputa pela atenção desses leitores se tornou ainda mais desafiadora. Jovens são muitos e múltiplos, assim como seus interesses. A diversidade dos temas abordados historicamente pelo Folhateen sempre foi um ponto forte, pois contemplava essa multiplicidade de interesses", comenta.

"Eu tinha um xodó especial pelo caderno, porque fui eu que dei o nome. Deve ter sido minha única contribuição relevante ao jornalismo brasileiro", brinca Álvaro Pereira Jr., na TV Globo desde 1995 e atualmente repórter exclusivo do Fantástico.

"Acredito que hoje seja bem difícil falar com o jovem, pela pulverização da informação, e pela dificuldade de distinguir entre o lixo que circula na web e o jornalismo profissional. Conheço pessoas muito instruídas, muito inteligentes, que me mandam pelo WhatsApp links inacreditáveis, sem ter a menor ideia se aquilo é verdadeiro ou não", pondera.

No antigo Folhateen, ele assinava a coluna Escuta Aqui, focada em música. "Era muito bacana, pela interação com os leitores, que amavam ou odiavam a coluna. Imagina, a comunicação era por cartas! Guardo muitas até hoje. Alguns leitores se tornaram amigos. Outros, inimigos", ri.

Para manter sua tradição de se comunicar com o leitor, o novo Folhateen disponibiliza o email folhateen@grupofolha.com.br, em que convida os jovens a enviar sugestões de temas que gostariam de ver abordados nos textos do canal.

O leitor também será convidado a participar de enquetes que renderão matérias posteriormente. E o canal publicará reportagens em vídeo, explorando a linguagem típica de cada rede.

Também está prevista a criação de um grupo de jovens editores que participarão semanalmente da produção do canal, em vídeo direto da redação, entrevistando personalidades interessantes ao universo adolescente.

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