Entenda como é feita uma pesquisa eleitoral

Sistema não é 'previsão do futuro', e envolve mais do que sair perguntando às pessoas em quem elas vão votar

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São Paulo

Não é por acaso que chamam de "corrida" toda essa movimentação que acontece nos meses anteriores às eleições. Os candidatos a presidente e a governador disputam a preferência dos eleitores a cada instante com aparições na TV, no rádio, em cartazes, no WhatsApp etc.

Os concorrentes, seus apoiadores, a população em geral… todo mundo quer saber quem está na frente na tal corrida (e precisa manter o ritmo) e quem está atrás (e vai ter que achar um jeito de se recuperar ou, de repente, de juntar forças com um adversário).

Folhinha conversa com especialistas para saber como são feitas as pesquisas eleitorais, e explica que não é "adivinhação", mas sim ciência
Catarina Pignato

Para isso servem as pesquisas eleitorais: fazer uma espécie de retrato, a cada vez que são realizadas, a fim de saber quem, naquele instante, está liderando a corrida. E como essa pesquisa funciona? Será que é só sair perguntando pra sua tia, seu vizinho, para aquele moço que está atravessando a rua em quem ele vai votar?

Não é bem assim. O Brasil tem cerca de 150 milhões de eleitores (é muita gente!).

"Seria impossível, pelo tempo e pelo custo, entrevistar todas as pessoas; nesse caso seria um censo, como o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] faz", diz Luciana Chong, diretora do Datafolha, um dos mais tradicionais institutos de pesquisa do país e parte do Grupo Folha, que publica esta Folhinha.

O censo que ela menciona é uma pesquisa que acontece no Brasil a cada dez anos e que visita todas as residências no país para saber quantos habitantes existem, as condições da moradia, a religião das pessoas, informações sobre a saúde, se estudam, trabalham etc.

"É por isso que as pesquisas eleitorais trabalham com uma amostra, um grupo de pessoas que representam a população inteira", explica Luciana.

No Brasil, temos um pouquinho mais de mulheres (52%) do que de homens (48%); uma a cada cinco pessoas começou ou terminou a faculdade, e 6,6% não sabem ler ou escrever; existem mais pessoas evangélicas do que espíritas ou budistas. E por aí vai.

A cada pesquisa eleitoral, cerca de 2.500 pessoas são entrevistadas. Quanto mais pessoas entrevistadas, menor a "margem de erro" —em outras palavras, fica mais fácil saber quem está na frente ou atrás na competição, o que reduz a chance de "empate técnico".

"O segredo para representar a realidade é a distribuição da amostra. Vamos a 190 municípios em todo o Brasil. Não ficamos apenas em cidades grandes ou capitais. O pesquisador tem que pegar avião, barco, ônibus e ir até a cidade sorteada", conta Luciana.

Por exemplo: para chegar até Feliz Natal, uma cidadezinha de 15 mil habitantes em Mato Grosso, e entrevistar os feliz-natalenses, o pesquisador sai de Campo Grande (MS), percorre mais de 1.000 km numa viagem terrestre de 20 horas até Sinop (MT), passa a noite ali, e só na tarde seguinte segue ao destino final, de van, em mais duas horas de trajeto.

Agora, para ir até a cidade de Barcelos, no Amazonas, a 400 km da capital Manaus, é possível pegar avião, mas o problema é que o pesquisador só consegue pegar o voo de volta três dias depois.

A alternativa é encarar uma viagem de 31 horas de barco. Nessa alternativa, é preciso sair na sexta-feira às 18h e voltar na segunda seguinte, às 18h. No meio tempo, desfruta-se da hospitalidade barcelense e realiza-se o trabalho propriamente dito.

Na hora da ação, os pesquisadores se posicionam em locais de grande fluxo e, com um tablet em mãos, entrevistam as pessoas de cada gênero e faixa etária estabelecidos no planejamento.

Os dados vão, pela internet, direto para a central, onde há ainda um controle de qualidade, para garantir que a entrevista foi bem preenchida e que não há tentativas de manipulação.

Outra forma de evitar pesquisas mal-conduzidas é o registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) antes mesmo de o processo começar. Ali, os responsáveis pelo levantamento fornecem dados técnicos, questionário que será aplicado, como é feita a amostragem etc.

Para organizar e realizar tudo isso, da preparação até a liberação dos resultados que lemos no jornal ou assistimos na TV, leva-se de uma semana a dez dias.

Não seria mais fácil e mais barato ligar para as pessoas ou fazer uma pesquisa pela internet? Luciana responde: "Sim, seria, mas, se você quer falar com todos os tipos de pessoas, de todas as classes, de todas as faixas etárias, o melhor jeito é a pesquisa presencial. O contato pela internet ou pelo telefone limita em parte esse acesso".

Outro ponto importante, explica a diretora do Datafolha, é que a pesquisa eleitoral não é previsão do futuro, mas, como os jornalistas e comentaristas costumam dizer, um "retrato do momento".

Por isso, de tempos em tempos, ao longo da corrida, elas são repetidas. Enquanto os candidatos realizam suas ações, fazem suas promessas e apresentam suas propostas, as opiniões das pessoas mudam.

No fim, as várias fotografias das pesquisas eleitorais formam um filme, cujo grande final a gente só fica sabendo na linha de chegada, as próprias eleições, marcadas para outubro deste ano.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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