Tudo na história de "Milhões de Gatos" é extremo: o homem é muito velho, a mulher é muito velha, eles são muito sozinhos, eles arrumam muitos gatos, tudo dá muito errado, e eles acabam o livro sendo muito felizes. Também são muitos os prêmios que "Milhões de Gatos" ganhou desde a sua primeira edição, em 1928.
Por exemplo: ele foi escolhido um dos cem melhores livros ilustrados de todos os tempos pela revista School Library Journal, um dos cem melhores livros infantis dos últimos cem anos pela New York Public Library, e entrou para o hall da fama dos livros ilustrados da American Booksellers Association.
É, ainda, considerado o livro americano ilustrado mais antigo de todos ainda em catálogo, ou seja, disponível para compra em livrarias.
Escrita e ilustrada pela norte-americana Wanda Gág, morta em 1946, a trama costurada por questionamentos sobre o valor das coisas em demasia foi publicada no Brasil pela primeira vez em 2018 pela Edições Barbatana. É um livro recente, portanto, e que merece ser conhecido por todos, crianças e adultos.
Tudo começa quando o casal de velhinhos, que vive em uma casa graciosa e cercada de flores, não consegue ser feliz. Algo deve estar faltando, e é preciso preencher este buraco.
A velha sugere que um gatinho bem peludo poderia ajudar —seu marido, um querido, rapidamente se dispõe a vasculhar o mundo atrás do presente para sua amada. Até que ele se depara com a figura principal da história: "centenas de gatos, milhares de gatos, milhões e bilhões e trilhões de gatos".
Esta frase segue sendo repetida ao longo de todo o livro. Ela está lá quando os bichanos causam um grande estrago em uma lagoa e numa colina, e também aparece quando o velhinho, de volta à casa graciosa, mostra à mulher o que conseguiu.
É que, diante de tantos gatos lindos, perfeitos e gostosos como sempre são todos os gatos do mundo até hoje, o marido simplesmente não conseguiu se decidir sobre qual seria o melhor. Levou para casa as centenas, milhares, milhões e bilhões e trilhões de gatos e agora tinha um pepino para resolver.
Como só podem ficar com um dos gatinhos, os dois velhinhos propõem que só o mais bonito deles permaneça. E aqui acontece uma cena bem tensa, que vai deixar todo mundo de boca aberta.
De todo modo, como dito lá no começo do texto, todo mundo acaba a história feliz e sem grandes traumas. Mas o que "Milhões de Gatos" tem de mais legal não é seu final apaziguador, e sim as reflexões que ele traz para cada pessoa que o lê.
Dá para pensar, por exemplo, em qual o real valor da beleza na vida da gente, para quê afinal ela realmente serve. Ou refletir se há alguma medida equilibrada entre a modéstia e arrogância, e o preço que cada uma delas pode cobrar de nós.
Quem sabe, ainda, olhar para a casa graciosa que se tem na vida real e tentar entender se realmente falta algo ali ou se está tudo bem do jeito que está (no máximo, no máximo, acrescentar um ou dois gatinhos ao cenário, isso sempre vai bem).
"Milhões de Gatos" é um daqueles livros que pegam cada leitor em um ponto diferente, e talvez seja essa a razão pela qual ele conseguiu se manter tão vivo nas estantes e na mente das pessoas através de seus 95 anos de idade.
DEIXA QUE EU LEIO SOZINHO
Ofereça este texto para uma criança praticar a leitura autônoma
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.