A pergunta da seção Um Adulto Responde deste sábado (11) tem relação com o que acontece no céu, tanto esse que todo mundo vê quando olha para cima, tanto aquele de que se costuma falar quando alguém querido morre.
Para responder à dúvida de Marina, 5 anos, convidamos o jornalista de ciência Salvador Nogueira, autor de 11 livros e do blog Mensageiro Sideral, na Folha, e sócio-fundador da Associação Aeroespacial Brasileira.
Se você tem alguma dúvida que ninguém soube responder ainda é só mandá-la para o email folhinha@grupofolha.com.br, que chamaremos um especialista no tema para resolver a questão.
Por que tem estrela que brilha mais no céu? Deve ser de alguém que morreu.
Marina, 5 anos
Bem, primeiro precisamos separar as luzinhas do céu em dois tipos, fáceis de notar. Algumas parecem ter um brilho mais fixo, constante, e costumam ser as mais brilhantes. São os planetas. Eles giram ao redor do Sol, como a nossa Terra, que também é um planeta.
Esse brilho mais constante tem a ver com o fato de que eles estão bem mais perto (e parecem maiores) que o segundo tipo, astros que oscilam e piscam o tempo todo. Essas são de fato as estrelas, que estão muito, muito mais distantes.
Planetas não têm luz própria. Eles refletem a luz do Sol, e esse é um dos fatores que influenciam em seu brilho. Pegue Vênus, por exemplo. É o planeta vizinho mais próximo, e é totalmente coberto por nuvens claras, que refletem muita luz. Por isso ele é o mais brilhante.
Já Marte, que é menor que Vênus, quase não tem nuvens e tem um solo cor de tijolo, brilha bem menos, num tom avermelhado.
É importante lembrar que esses planetas estão sempre mudando de posição do céu, um pouquinho a cada dia, conforme giramos (eles e nós) ao redor do Sol. Isso faz com que seu brilho varie com o tempo, por conta da mudança da distância.
Resumindo, três coisas influenciam no brilho de um planeta: o quanto ele reflete a luz do Sol, sua distância da Terra e seu tamanho. O mais brilhante, depois de Vênus, é Júpiter, que apesar de estar bem mais longe, tem nuvens claras e é bem maior, um planeta gigante.
Depois Saturno, outro gigante, ainda mais distante. Na rabeira vêm Marte e Mercúrio —não por acaso os dois menores planetas da família solar. Há outros dois planetas, Urano e Netuno, que estão tão longe que não se pode ver a olho nu —só com telescópio.
Já as estrelas, como dissemos, ficam bem mais longe. E o que elas são?
São outros sóis, alguns até maiores que o nosso. Mas, por estarem tão afastados, parecem pontinhos minúsculos. E, sim, em torno da maioria deles também há planetas.
A estrela mais brilhante do céu noturno é Sírius, na verdade composta por dois astros. Mas está tão longe que, sem um telescópio potente, a vemos como um só. Por sinal, é por isto que as estrelas têm um brilho cintilante no céu —como pontinhos minúsculos, qualquer ventinho no ar da Terra faz com que oscilem.
A ideia de que pessoas que morreram viram estrelas é muito bonita e humana.
Desde as mais remotas épocas, todos os povos têm imaginado que seus grandes heróis e lendas de algum modo moram no céu noturno. Eles ligaram várias estrelas formando figuras que vinham de sua cultura, como num jogo de "ligue os pontos", e são esses desenhos que chamamos de constelações.
De certo modo, as estrelas de fato refletem o que acontece com as pessoas queridas quando morrem.
Como esses sóis estão muito distantes, a luz deles demora muito tempo para chegar aqui. O que significa que, quando olhamos para uma estrela, estamos vendo-a como era no passado.
Estrelas, como pessoas, também morrem. Mas sua luz continua a viajar pelo Universo e chegar até nós muito tempo depois disso, mantendo viva a lembrança de sua existência, da mesma forma com que as pessoas queridas que se foram também continuam a brilhar —na memória e no coração de quem as conheceu.
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