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Saiba por que Pernambuco concentra risco com tubarões e aprenda a se proteger

Animais podem confundir banhistas com comida, especialmente no amanhecer e entardecer, diz bióloga

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São Paulo

No domingo (5) e na segunda (6), duas pessoas foram mordidas por tubarões na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE). O lugar é conhecido como um ponto arriscado para o banho de mar e conta com sinalização de alerta, mas há quem ainda assim entre na água, se expondo ao perigo.

A bióloga Bianca S. Rangel, pesquisadora no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e coordenadora do projeto Tubarões e Raias de Noronha, explica que essa região em Pernambuco reúne vários elementos que a transformam em um lugar com mais ocorrências com tubarões do que no resto do país.

Tubarão cabeça chata na série 'Ameaçados', do canal Off
Tubarão cabeça chata na série 'Ameaçados', do canal Off - Rodrigo Thomé/Produtora Peixe Voador/Divulgação

"São águas turvas, rios e regiões mais fundas próximas às praias, onde centenas de pessoas gostam de ficar todos os dias. Além disso, acredita-se que a construção do Porto de Suape tenha contribuído para a destruição de áreas especiais para os tubarões", diz.

O Porto de Suape, originalmente chamado de Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros, foi inaugurado em 1983 entre os municípios pernambucanos de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife. Sua existência pode ter modificado o habitat dos tubarões e de toda a fauna marinha local.

Entre as mais de 500 espécies de tubarões que existem no mundo, várias ficam próximas às praias. Isso acontece porque é ali que elas encontram alimento: corais, peixes de diversos tamanhos, tartarugas, golfinhos e outros animais.

Outras espécies preferem ficar em alto mar, ensina Bianca, mas mesmo elas também precisam visitar a praia de vez em quando, seja para se alimentar entre as longas viagens que fazem, seja para se reproduzirem e deixar seus filhotes.

Ambulância vermelha e branca dos bombeiros
Samu socorre jovem atacada por tubarão em Jaboatão de Guararapes - Divulgação/Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes

"Essas áreas mais rasas fornecem bastante alimento para os filhotes, e águas mais quentes, o que os ajuda a crescerem mais rápido. Chamamos esses locais de áreas de berçário de tubarões", completa a bióloga.

Seja de qual tipo for o tubarão, mais do fundo ou mais do raso, o que acontece é que, às vezes, ele confunde as pessoas com seu alimento. "Diferente de nós, os tubarões não têm mãos para conferir se o que eles querem comer é aquilo mesmo, e então ele morde para investigar o que é", conta Bianca.

"Sabemos que a maioria das mordidas em pessoas ocorre quando os tubarões não enxergam bem na água. A água é turva em praias perto de rios, ou então quando chove muito. Fica difícil de o tubarão enxergar também durante as horas mais escuras do dia, ou seja, ao amanhecer ou entardecer."

Bianca explica que, quanto mais pessoas na água em locais especiais para tubarões, maior a chance de alguém ser confundido com comida.

Há ainda o problema da destruição de locais especiais para estes animais —com a construção de portos, como o de Suape, por exemplo—, e da pesca desenfreada de peixes que servem de alimento para os tubarões.

"Sem encontrar alimento fácil, os tubarões precisam buscar mais, e é nessa hora que acabam mordendo alguém", resume.

Ainda assim, a bióloga fala que, até onde se sabe, tubarões não são fãs de seres humanos na hora da refeição. "Se eles fossem, haveria muito mais pessoas mordidas no mundo todo. Afinal, estamos aos milhares todos os dias na casa deles."

"Tubarões têm personalidade, igual a nós. Infelizmente sabemos muito pouco sobre o comportamento deles, mas sabemos que não são agressivos como vimos em alguns filmes. Eles são animais grandes, predadores, e isso pode nos parecer algo agressivo, mas não, é apenas a natureza deles. Estão caçando para se alimentar, sobreviver", explica.

No geral, o risco de ataque é baixo no mundo todo —Bianca conta que os tubarões estão em risco de extinção, o que torna ainda mais raro o encontro com um deles nas praias. De todo modo, crianças e adultos podem tomar alguns cuidados que diminuem a chance de incidentes.

Por exemplo: entre no mar apenas em água límpida e evite os banhos ao amanhecer e anoitecer; evite entrar na água sozinho; fique atento às placas de advertência nas praias; não toque ou persiga os tubarões, porque eles podem se sentir ameaçados; não atrapalhe a refeição dos tubarões e nade longe de cardumes de peixes e áreas de pesca

"Precisamos sempre lembrar que quando entramos no mar, estamos entrando na casa dos animais marinhos, e precisamos respeitá-los. A presença de tubarões é sinal de vida marinha rica e abundante, e não de perigo", diz Bianca.

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