Betinho queria acabar com a fome no Brasil e conviveu com problemas de saúde desde pequeno

Livro 'Muito Prazer, Sou o Betinho', de José Roberto Torero, conta para crianças a história do sociólogo

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São Paulo

Herbert José de Sousa nasceu em Bocaiúva, Minas Gerais, em 1935. Quando era criança e já morava em Belo Horizonte, seu pai trabalhava em uma funerária, lugar onde as pessoas que morrem são cuidadas e preparadas para a despedida final, em um enterro ou cremação. Betinho, como Herbert era chamado, acompanhava o pai ao trabalho.

"Lá na funerária o Betinho aprendeu a fazer escultura em cera de vela, a moldar gesso, a aplicar verniz e a mexer em madeira. Acho que ele não tinha o menor medo de fantasmas", brinca o escritor José Roberto Torero, que está lançando um livro sobre a vida de Betinho, o "Muito Prazer, Sou o Betinho".

Colagem e ilustração de Catarina Bessel em livro escrito por José Roberto Torero sobre a vida de Betinho - Divulgação

Torero explica que quis escrever essa história porque, para ele, Betinho foi "um cara muito bacana, que é lembrado até hoje principalmente porque conseguiu unir o Brasil contra a fome". Atualmente, a fome atinge 33 milhões de brasileiros.

Torero se refere a uma causa que foi sempre muito importante para Betinho, a de acabar no país com o problema das pessoas que não têm o que comer, mas Torero fala principalmente de um projeto que Betinho criou 30 anos atrás, a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida.

Em 1993, ele lançou esse programa para tentar que a sociedade se mobilizasse e buscasse formas de solucionar a questão da miséria. Em resumo, o trabalho das pessoas voluntárias na Ação da Cidadania é, até hoje, se aproximar das famílias que passam fome e oferecer ajuda com doação de alimentos, geração de emprego e assistência com educação, lazer e saúde.

Capa do livro de José Roberto Torero e Catarina Bessel - Divulgação

"A Ação nasceu porque o Betinho achava que democracia não combinava com miséria. E a maior expressão da miséria é a fome. Então ele juntou um monte de gente, artistas, religiosos, políticos e gente comum. Eles falaram na imprensa, fizeram shows, etc. E o país inteiro fez uma grande arrecadação de alimentos", lembra Torero.

"No auge da campanha, havia 3 milhões de pessoas envolvidas nos comitês. Foi um momento único na vida do país. E na do Betinho também."

Um dia, quando tinha 10 anos de idade, Betinho foi tomar banho em casa. Para alcançar a janela do banheiro, já que era inverno e fazia muito frio, ele subiu no bidê, uma peça de louça parecida com o vaso sanitário, mas com um ralo pequenininho e saída para a água —antigamente, muitos banheiros tinham bidê, e as pessoas faziam sua higiene ali depois de usar a privada.

Pois Betinho subiu ali, escorregou e bateu a boca na borda do bidê. "E aquilo não parava de sangrar. Tiveram que levar o Betinho para o hospital e lá descobriram que ele tinha a 'doença do sangue'", diz Torero, sobre o diagnóstico de hemofilia que Betinho recebeu.

Ilustração de Catarina Bessel para o livro que conta história de Betinho - Divulgação

"Hemofilia é uma doença que, quando você se corta ou se machuca, o sangue demora muito para parar de sair. Às vezes, só fazendo uma transfusão de sangue. E ela pode até matar. Por conta disso, o Betinho não podia fazer um monte de coisas quando criança. Por exemplo, jogar bola. Então ele ficava de técnico."

Aos 15 anos, Betinho contraiu tuberculose, doença infecciosa causada por bactérias que se alojam principalmente nos pulmões e causa tosse, febre e perda de peso. Hoje, a tuberculose é melhor controlada, mas naquela época, em 1950, os tratamentos ainda eram complexos. "Desde cedo ele conviveu com a morte", resume Torero.

Betinho se formou em sociologia. Trabalhou na Superintendência da Reforma Agrária, no Rio de Janeiro, e 20 anos depois, em 1983, fez uma campanha nacional também pela reforma agrária.

"Pelo que eu entendo, reforma agrária é fazer uma melhor distribuição da terra, para fazer justiça social. É dar terra que não está sendo utilizada para quem quer e precisa utilizá-la", explica Torero.

O escritor também comenta o período em que Betinho lutou contra a ditadura militar brasileira e precisou se exilar no Chile, em 1971. Ele também se mudou para o Canadá e para o México pelo mesmo motivo.

"Acho que ele era perseguido porque a ditadura queria manter o privilégio dos mais ricos. E ele sempre foi contra isso. Daí a ditadura prendia, torturava e até matava as pessoas. Foi um período muito triste da história do Brasil", diz Torero.

Em 1979, Betinho foi homenageado pelos músicos João Bosco e Aldir Blanc na canção "O Bêbado e a Equilibrista", que ficou famosa na voz de Elis Regina e diz, em um trecho, que o Brasil "sonha com a volta do irmão do Henfil" —Henfil era um cartunista irmão de Betinho.

No mesmo ano, o sociólogo voltou para seu país. Em 1986 ele descobriu que havia contraído o vírus da imunodeficiência humana em uma das transfusões que precisava fazer frequentemente, por conta da hemofilia. Por isso, ele fundou e presidiu a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS.

Henfil e um outro irmão deles, o músico Chico Mário, morreram em consequência da doença em 1988. Betinho morreu em 1997.

Muito Prazer, Sou o Betinho

  • Preço R$ 52,78
  • Autoria José Roberto Torero e Catarina Bessel (ilustrações)
  • Editora Moderna

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