Daniel Azulay foi pioneiro dos tutoriais ao desenhar na TV em era pré-internet

Criador da Turma do Lambe-Lambe na década de 1970 é tema de exposição que abre neste sábado (16) em São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Tem gente que fica tímida ao mostrar seus talentos na frente dos outros, e tem gente que não só não liga como fica ainda mais feliz se juntar uma boa plateia para assistir o que sabe fazer de melhor. Daniel Azulay era do segundo time —ele adorava desenhar em frente às câmeras enquanto crianças do país inteiro viam tudo do outro lado da TV.

O desenhista Daniel Azulay, homenageado em exposição que abre em São Paulo no sábado (16) - Divulgação

Isso acontecia nos anos 1970, quando a internet ainda não existia, e tampouco havia redes sociais e a exposição da vida de todo mundo que hoje em dia se vê por lá. É como se ele tivesse sido um pioneiro dos tutoriais tão comuns atualmente. Na TV Educativa, que já não existe mais, Azulay se apresentava no programa Turma do Lambe-Lambe ensinando suas técnicas de desenhista.

Ele foi tão importante para a cultura brasileira que agora é tema de uma exposição no Museu Judaico, em São Paulo, com abertura neste sábado (16). Em "Algodão Doce pra Você! - De Férias com Daniel Azulay", as crianças visitantes vão conhecer este artista familiar a pais e mães de hoje, enquanto os adultos poderão relembrar momentos marcantes de sua infância.

A curadora (nome que se dá a quem pensa e organiza exposições) Mariana Lorenzi acha que Azulay é uma influência eterna "para mentes criativas". "Ele deixou uma marca com suas criações e programas de televisão, e muitas crianças da época aprenderam a desenhar com ele. Além disso, o Daniel não tinha medo de se reinventar", diz.

Azulay nasceu em uma família judia no Rio de Janeiro em 1947. Curtia pedalar uma bicicleta maluca pela cidade, e seus óculos tipo de cientista maluco o faziam atrair a atenção de quem olhava. O desenho entrou na sua vida sem aulas formais: ele era o que se chama "autodidata", alguém que ensina a si mesmo a fazer alguma coisa.

Daniel Azulay na infância - Arquivo Pessoal

Com 12 anos, sua família o ajudou a fazer um curso de desenho por correspondência —lembra que não havia internet? Esse sistema de aprender habilidades envolvia mandar e receber muitas cartas da escola, com exercícios e correções. Aos 15 anos, Azulay publicou um desenho na parte de palavras cruzadas do jornal O Globo.

Foi em 1975 que ele criou a Turma do Lambe-Lambe, seu maior sucesso, que foi parar não só nos jornais, mas também em gibis, comerciais de produtos e, claro, na televisão. "A turma tinha oito personagens, além do próprio Daniel Azulay", lembra Mariana.

"Pita é alegre e tagarela e se mete em muita confusão, quer ser mágico. Piparote é o mais tímido e medroso, mas mesmo assim sonha em ser um domador de leões. Professor Pirajá é uma coruja que trabalha como cientista e é defensor do meio ambiente. Gilda é uma vaquinha vaidosa e sentimental. Tristinho é malabarista. Ritinha sonha em ter seu próprio negócio, também é gulosa e ama sorvete. Damiana é criativa e arteira. Xicória, é uma galinha simpática que adora cozinhar, e é a secretária do Professor Pirajá."

Azulay ensinava a desenhar e a construir brinquedos de sucata, enquanto falava de filosofia e artes, tudo sempre de um jeito que as crianças pudessem entender. "Sua simpatia e seu carisma, aliados à prática, o ajudavam a ficar à vontade na frente das câmeras", afirma Mariana.

"Eu acho que ele não tinha medo de errar, já que errar faz parte do processo de criação. O traço do desenho dele era muito limpo, e ele também era capaz de fazer desenhos complexos. Acima de tudo, o Daniel conseguiu trazer a ideia de que qualquer um podia desenhar, bastava começar", diz a curadora.

Azulay morreu aos 72 anos no dia 27 de março de 2020, no Rio de Janeiro, vítima da Covid-19. Na época, ele tratava uma leucemia. O acervo exposto na mostra "Algodão Doce pra Você!" foi disponibilizado por sua viúva, Beth Azulay. Além dos objetos e obras, o museu também vai oferecer oficinas e atividades gratuitas para quem gosta de desenhar.

Algodão Doce pra Você! De Férias com Daniel Azulay

  • Quando De 16 de dezembro a 17 de março de 2024. De ter. a dom., das 10h às 19h (última entrada às 18h30). Às qui., das 12h às 21h
  • Onde Museu Judaico de São Paulo (R. Martinho Prado, 128)
  • Preço Ingressos R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira). Grátis aos sábados
  • Classificação Livre

DEIXA QUE EU LEIO SOZINHO

Ofereça este texto para uma criança praticar a leitura autônoma

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.