Crítica - Drama
Longa é sensível ao adaptar peça de Vianinha
'Mão na Luva' recupera texto do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho sobre um casal que termina seu casamento
Figura emblemática da resistência à ditadura militar, o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (1936-1974), é autor de uma obra marcante, mas sumida da cena cultural contemporânea.
O forte conteúdo político de suas peças dá lugar a uma abordagem diferente em "Mão na Luva", que trata do relacionamento de um casal.
No entanto, o prisma político continua presente, se considerarmos que política é a habilidade para tratar das relações humanas com interesse em obter certos resultados.
Escrita originalmente em 1966, a peça só foi encenada pela primeira vez em 1984 e ganha agora uma adaptação para as telas, feita pela roteirista Susana Schild.
Depois de 13 anos de convívio, Lúcio (Roberto Bomtempo) e Sílvia (Miriam Freeland) estão prestes a se separar. A ação se concentra na última noite que passam juntos, quando se digladiam.
GÉLIDO E CINZA
A discussão do casal alterna momentos ásperos --e até violentos-- com períodos mais serenos. O presente é constantemente entrecortado por flashbacks, que trazem as lembranças dos dois.
As recordações trazem à tona inseguranças, sonhos, traições e segredos, mas também instantes de entendimento entre o casal.
O título alude justamente à pretérita harmonia do relacionamento, ao encaixe perfeito entre mão e luva.
Encerrados em uma casa ampla, cheia de paredes de concreto aparente e portas de vidro, o casal é prisioneiro de suas próprias frustrações.
A casa é uma espécie de cárcere gélido e cinza, como o casamento de Lúcio e Sílvia. O diálogo chega tarde demais, quando a relação já se desgastou por conta da idealização que um faz do outro e da incompreensão mútua.
Sensível e sem julgamentos, o belo texto do dramaturgo Vianinha foi adaptado, dirigido e interpretado com respeito e competência.