Crítica - Drama
Única função de personagens é mostrar lado mau da internet
Distante de seus bons filmes, como 'Juno', diretor Jason Reitman decepciona
LONGA É UM CATÁLOGO DE PATOLOGIAS LIGADAS AO USO DA TECNOLOGIA
RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA"Homens, Mulheres e Filhos" é menos um trabalho cinematográfico do que um catálogo de patologias contemporâneas ligadas ao uso da tecnologia.
A estrutura do filme coral --em que histórias de diferentes personagens aos poucos se entrelaçam-- parece ter sido adotada para dar conta do maior número possível de disfunções psicológicas.
Baseado no livro homônimo de Chad Kultgen, a narrativa acompanha cinco adolescentes que estudam na mesma escola e também seus pais.
Entre eles, o garoto (Ansel Elgort) abandonado pela mãe que se refugia nos videogames e a garota (Elena Kampouris) que pega dicas de emagrecimento em sites de bulímicas.
Há uma mãe superprotetora (Jennifer Garner) que vigia todos os passos da filha na internet e outra superpermissiva (Judy Greer) que publica fotos eróticas da filha para lançá-la como modelo, mas que acabam atraindo pedófilos.
Há o marido (Adam Sandler) que trai a mulher com uma prostituta encontrada na web e também sua mulher (Rosemarie DeWitt), que o trai simultaneamente com um homem que conheceu em um site.
Aos personagens não é permitida uma existência, e sim uma função: ser o símbolo de um desvio comportamental que a tecnologia não cria, mas facilita.
Apesar de uma nuance aqui e outra ali, o olhar sobre a internet é, no geral, moralista, condenatório e generalizante.
Alinhavando a trama há a narração de Emma Thompson que cita o vídeo "Pálido Ponto Azul", em que o cientista Carl Sagan reflete sobre a pequenez humana diante da imensidão do universo.
É uma tentativa deslocada de dar uma pátina de profundidade a um filme que se mantém na superfície dos temas.
Depois do constrangedor drama romântico "Refém da Paixão" (2013), "Homens, Mulheres e Filhos" é mais um passo atrás na carreira do diretor canadense Jason Reitman.
Ele começou sua trajetória emendando filmes acima da média: a sátira "Obrigado por Fumar" (2005) e as comédias dramáticas "Juno" (2007), "Amor sem Escalas" (2009) e "Jovens Adultos" (2012).
Com toda sua leveza, esses filmes eram mais densos que o pretensioso "Homens, Mulheres e Filhos".