Em 1997, jazzista e filósofo compararam a escrita à música
Nascidos no mesmo 1930 e ambos revolucionários em suas áreas de atuação, o filósofo franco-argelino Jacques Derrida (1930-2004) e o saxofonista americano Ornette Coleman se encontraram em 1997 e conversaram sobre linguagem, música e política.
Derrida entrevistou Coleman antes de um show em Paris --e a conversa (em inglês, depois traduzida para o francês) foi publicada na revista francesa "Les Inrockuptibles".
"Quando eu fazia o 'free jazz', a maioria das pessoas pensava que eu só pegava meu saxofone e tocava o que passava pela minha cabeça, sem seguir regras, mas não é verdade", disse Coleman a Derrida. O filósofo então comparou o conceito de improvisação à escrita: "A improvisação é a criação de algo novo, mas ao mesmo tempo não exclui a escrita que a precede e que a torna possível", disse Derrida. Coleman concordou.
Questionado sobre a relação entre a política e a música, o jazzista respondeu: "Estava no Sul [dos EUA] quando as minorias foram oprimidas. Eu me identificava com elas por meio da música."
A composição "Lonely Woman", contou, foi inspirada na pintura que viu numa galeria de uma "mulher branca e rica" com uma expressão que o assombrou. "Nunca havia visto tamanha solidão."