Real perde mais força e descola de divisas emergentes
Moeda se desvaloriza mais que a de outros países, com dificuldades no Congresso e fala de Levy sobre câmbio
Conjuntura política, possível perda do grau de investimento e ação do BC também pesam, afirmam analistas
Dia 30 de janeiro. A data ficará marcada como o início da nova flutuação do real brasileiro, moeda que ganhou distância da variação das demais divisas emergentes em relação ao dólar, que sobe em todo o mundo com a perspectiva de alta dos juros nos EUA.
Foi esse o dia em que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) afirmou textualmente que não manteria mais o câmbio "artificialmente" valorizado.
Naquele dia, o dólar subiu 2,74% e, desde então, galgou quase 25% em relação ao real, de R$ 2,613 para R$ 3,25.
A alta no período também reflete o recrudescimento das relações do governo com os parlamentares (vide as negociações sobre a tabela do IR), após a escolha dos peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros para o comando do Congresso, colocando em risco o cumprimento da meta fiscal deste ano: economia de 1,2% do PIB.
Com os problemas internos ficando cada vez mais evidentes, o real vem se descolando de uma cesta de moeda emergentes (veja quadro acima), que também se desvalorizam, mas em ritmo menos intenso.
Enquanto o real caiu 19,6% de 30 de janeiro para cá, as maiores baixas foram as do peso colombiano (-9,6%) e da lira turca (-8,3%), de acordo com a Bloomberg.
Esse movimento também foi visto nesta sexta (13), em que o real, afetado por problemas da economia brasileira (como a ameaça de saída de Levy da Fazenda), caiu 2,83%, a maior queda global.
Dia após dia, o mercado testa o "sangue-frio" do Banco Central, que na história recente jamais deixou a moeda americana explodir desse modo sem intervir no mercado de câmbio vendendo dólares à vista ou a prazo (contratos de "swap" em reais, que equivalem a compra de dólar em determinado prazo).
Existem hoje US$ 112 bilhões em contratos de "swap", que costumavam ser renovados integralmente à medida que iam vencendo. Desde março, no entanto, o BC reduziu o volume de renovação, sinalizando que vai rolar apenas 80% dos contratos com vencimento em abril.
"Nestes últimos dias estamos vendo um movimento de descompressão do câmbio depois que o ministro anunciou que não aumentaria a quantidade de 'swap' e que a moeda obedeceria mais ao fluxo [de divisas]. Também tem a questão política. Para onde vai, ainda não sabemos", disse Emilio Garofalo, diretor da Ourinvest e um dos maiores especialistas em câmbio do país.
Na visão de Luís Gustavo Pereira, estrategista da Guide, a conjuntura política tem um peso maior do que o fator Levy. "Houve um descolamento associado mais à percepção de risco vindo do lado político, que pode agravar a crise econômica."