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03/12/2012 - 04h00

Pignatari esteve na proa das vanguardas em mais de 50 anos de publicações

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NOEMI JAFFE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 2007, quando o encontrei próximo de completar 80 anos, Décio Pignatari não queria nem saber de comemorações.

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"Da mesma maneira como não existe nem nunca existiu uma vanguarda majoritária, também não quero comemorar meus 80 anos com uma data marcada pelo reconhecimento oficial."

Sempre -e em tudo- avesso à correnteza e sempre na proa das vanguardas, Pignatari era a prova viva de que "a arte atua a favor da revolução e contra o poder".

Em seu pequeno apartamento, em Curitiba, onde praticamente se exilou antes de retornar a São Paulo, falou mal de muita coisa e de muita gente consagrada, do Prêmio Nobel de literatura à psicanálise, de Jorge Amado (1912-2001) a Ludovico Ariosto (1474-1533).

Mas não era absolutamente um ressentido.

Em plena atividade --estava escrevendo uma peça de teatro--, se dizia disposto, a partir de então, a se dedicar à prosa filosófica, apaixonado que estava por Martin Heidegger (1889-1976) e Soren Kierkegaard (1813-1855).

Mas, mesmo resolvido a escrever prosa, para ele o grande mistério, como disse naquele dia, continuava sendo o "não verbal, o ícone, o vazio do vaso, o oco do pote".

Um homem de um voluntarismo sagrado, uma inteligência, teimosia e ego descomunais, mas que afogou num tanque oito volumes de diários, para acabar com tudo o que fosse pessoal.

"Eu não sou quem escreve,/ mas sim o que escrevo:/ Algures Alguém/ são ecos do enlevo." ("Eupoema", 1952)

Foi também para se aproximar do mistério do ícone e para acabar com o mito de que a poesia é subjetividade e sentimento, que Décio foi, juntamente com Haroldo (1929-2003) e Augusto de Campos, um dos criadores da poesia concreta, em meados dos anos 1950.

E, diferentemente de outro mito que se criou -o de que a poesia concreta era alienada das questões sociais-, Décio, sempre crítico e, até o fim, autocrítico, desde essa época se preocupava em pensar os rumos do país, da arte e da cultura brasileiras.

Aos 85 anos, Décio Pignatari parte sem o reconhecimento que ele dizia não querer, mas que o Brasil permanece lhe devendo.

Noemi Jaffe, 50, é doutora em literatura brasileira pela USP e autora de "A Verdadeira História do Alfabeto" (Companhia das Letras)

 

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