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13/12/2012 - 11h33

Depoimento: Ravi Shankar apontou a dimensão espiritual da música

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ALBERTO MARSICANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Londres, década de 1970. O vento de outono farfalhava as folhas das árvores. Em círculo, sentados na posição de lótus, ouvíamos atentos a preleção de Pandit Ravi Shankar.

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Em certo momento, o mestre levou-nos até a janela e exclamou: Ouçam o vento! Voltamos à sala de aula e Shankar, em sua voz pausada e mântrica, pontuou: Agora toquem o vento!

Ravi Shankar, com quem tive o privilégio de compartilhar inesquecíveis momentos, foi o bodhidharma, o portador da lanterna, trazendo a tradição milenar da música clássica indiana ao Ocidente.

Sua influência não limitou-se a um pequeno círculo de iniciados, mas atingiu a cultura de massa, com seus discípulos como o Beatle George Harrison.

Sandro Campardo/Efe
O músico e citarista indiano Ravi Shankar
O músico e citarista indiano Ravi Shankar

O sistema milenar da música hindusthani, não escrito e centrado na improvisação, exerceu forte influência no jazz. John Coltrane jamais negou que criara seu jazz livre modal e dissonante inspirado em Shankar. O músico chegou até a colocar o nome Ravi em seu filho.

No campo da música erudita, seu trabalho com o violinista Yehudi Menuhin uniu os dois hemisférios em discos antológicos.

Shankar incumbiu-me de levar a tradição da cítara indiana ao Brasil e, posteriormente, voltei a encontrar-me com ele em sua cidade natal Varanasi, onde fundara o RIMPA (Centro de Pesquisas Artísticas), cujo projeto consistia em criar um núcleo avançado de estudos da arte indiana.

Shankar mudou a música contemporânea. George Harisson, que também frequentava suas preleções, certa vez declarou que Shankar apontara-lhe a dimensão espiritual da música, transformando e elevando o padrão de sua música.

O termo "raga" (peças clássicas) provém do sânscrito "ranja", que significa cor. Segundo a tradição, as notas possuem cores; dó, o rubro da pétala do lótus; ré, o verde da pena do papagaio; mi, o dourado do sol; fá, o branco da flor do jasmim; sol, o negro da ágata; lá, o amarelo brilhante; e si, multicor.

Experimentalista e heterodoxo, ele abençoou minhas transcrições da música brasileira e autores clássicos como Debussy, Satie e Ravel para a cítara indiana.

Jamais esquecerei sua expressão de interesse quando mostrei-lhe minhas versões de "Asa Branca" e "Estrada do Sol" na cítara.

ALBERTO MARSICANO é músico e um dos precursores da cítara indiana no Brasil

 

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