LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO

Peixonauta não morre nem fora d'água. Com capacete de astronauta, sai do lago e voa. Mas seu poder de sobrevivência vai além. Criado há dez anos pela TV PinGuim, produtora de São Paulo, o personagem da primeira série de animação infantil brasileira já nadou e voou pela televisão de quase cem países, pelo Youtube, aplicativos, palcos e pela Netflix. Agora chega ao cinema em um longa em 3D.

Herói das causas ambientais, sobreviveu em águas revoltas, passando pela crise econômica e pelas incertezas do audiovisual.

"Além da instabilidade do país, a gente não sabia bem para onde a audiência ia, se devíamos investir em novas temporadas para a TV paga, desenvolver aplicativos, investir no YouTube, na Netflix...", conta Ricardo Rozzino, um dos sócios da PinGuim, ao lado de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo.

Para atravessar a tormenta, colocaram os pés em várias canoas. E criaram diferentes departamentos, do marketing ao desenvolvimento de apps.

Quando "Peixonauta" estreou no Discovery Kids Brasil, em 2009, a TV PinGuim se resumia a uma equipe de sete pessoas. Agora que o filme chega às telas, conta com 60.

Hoje, uma equipe ensaia "Cante com o Peixonauta!", terceiro mergulho do peixe nos palcos. Diretores, cenógrafos, atores, todos são contratados da produtora. O departamento de teatro não é especialmente rentável, mas se sustenta e reforça a relação do público com o personagem.. Já os aplicativos deram prejuízo e foram deixados de lado.

No final das contas, as plataformas alternativas serviram para fortalecer a marca, que chegou a ter em torno de 300 produtos licenciados, mas o peixe grande segue sendo a televisão, revigorada pelos contratos com a Netflix.

A série tem duas temporadas, com 52 episódios cada, que continuam em reprise no Discovery Kids, onde atingiram o topo de audiência na televisão paga em 2009 e 2010.

Na Netflix dos EUA estreou em 2010 e na da América Latina, em 2014.. Neste mês de janeiro, após o fim da exclusividade do Discovery Kids, pôde entrar na Netflix Brasil. Além de manter os episódios pelo menos até o fim de 2019, a empresa fará o lançamento mundial do filme logo que ele sair das salas de cinema.

NOVOS PROJETOS

Peixonauta é um agente da O.S.T.R.A. (Organização Secreta para Total Recuperação Ambiental), que soluciona mistérios com a ajuda da garota Marina e do macaco Zico.

No filme, eles saem para resolver um problema que envolve a contaminação da água. O peixe astronauta circula pelo parque Ibirapuera, avenida 23 de Maio, Masp e outros cenários paulistanos.

O longa contou com financiamento do BNDES e da Petrobras, com orçamento de R$ 5,6 milhões. Iniciado em 2011, teve dificuldades para fechar acordo com uma distribuidora até acertar com a Riofilme, por isso demorou sete anos para ser lançado.

Nesse tempo, a TV PinGuim lançou outra série para o mesmo público, "O Show da Luna!", hoje com a quinta temporada em produção.

O programa sobre uma garota que quer saber tudo sobre ciências foi indicado ao Emmy Kids, principal premiação da produção de TV para crianças nos EUA. Faz carreira também no teatro, com "O Show da Luna ao Vivo!", e tem 550 produtos licenciados.

Há outros projetos de TV em diferentes estágios, uns prestes a estrear, como "Ping & Pong", sobre instrumentos musicais, que entrará no ar no Discovery Kids.

Ao cinema, deverá chegar no próximo ano "Tarsilinha", cujos cenários são inspirados em obras da Tarsila do Amaral, e já está em produção "Nihonjin", baseado no romance homônimo vencedor do Jabuti. Se um dia o peixe, apesar do capacete de astronauta, não resistir, terá deixado herdeiros.

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