Arquitetura e urbanismo motivam reflexões geopolíticas de artista

Espaço Cultural Porto Seguro inaugura exposição com obras de Carlos Garaícoa nesta terça (6)

Isabella Menon
São Paulo

Uma miniatura do Banco do Brasil banhada em ouro é disposta dentro de um cofre. Denominada "Saving the Safe" (salvando o cofre), a obra integra a mostra "Ser Urbano", de Carlos Garaicoa.

Ocupando três ambientes do Espaço Cultural Porto Seguro, a exposição aborda relações entre geopolítica e sociedade por meio da arquitetura e urbanismo.

No caso da miniatura do banco, Garaicoa explica que a obra partiu da vontade de discutir as crises geradas pelo mercado financeiro.

Na exposição, apenas a instituição brasileira é retratada; entretanto ela faz parte de uma série da qual fazem parte bancos de outros países, como Espanha e Estados Unidos.

Cubano radicado em Madri, Garaicoa não retratou sua terra natal nessa série. "A ausência", explica, se dá "pelo simples motivo de que em Cuba o problema é tão profundo que não se faz uma discussão sobre a economia".

Na primeira parte da exposição, encontram-se duas obras a videoinstalação "Abismo" e a maquete do edifício da "Haus der Kunst" (casa da arte) de Munique que propõem um diálogo sobre o regime nazista na Alemanha.

"Venho de um país autoritário", explica ele. "É muito estranho que haja uma só pessoa com o poder do governo, coisa que aconteceu na Europa também, por isso encontrei outras formas para falar desse tema".

No andar de cima, está em exibição a instalação Partituras, que conta com vídeos de 70 músicos de rua de diferentes países, recolhidos ao longo de dez anos.

Cuba aparece, em específico, na série "Fin del Silencio" (2010), composta de enormes tapeçarias que aludem a questões sociais do país.

Na série, o artista se apropria de nomes estampados em antigos estabelecimentos comerciais de Havana, em si já sugestivos, como "La Lucha" ou "Pensamiento".

O artista imprime um tom crítico ao modificar esses nomes "La Lucha", por exemplo, se torna "La lucha es de todos" (a luta é de todos).

Garaicoa diz sentir pressão para que artistas se limitem a abordar somente aspectos de seus locais de origem.

Na mostra fica evidente que ele pretende ampliar seu escopo para temas globais. Para ele, é importante poder participar de discussões sobre assuntos que lhe interessem, em qualquer lugar.

"Temos que ter liberdade de falar, por exemplo, do Brasil", diz ele. "Quando conheci o Brasil, havia muita violência; depois veio um boom econômico que foi seguido de uma crise institucional", lamenta o artista, que participou de Bienais de São Paulo em 1998, 2004 e 2010.

 

Ser Urbano

ONDE Espaço Cultural Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 610

QUANDO de 7/2 a 6/5; de ter. a sáb. das 10h às 19h, dom. e feriados das 10h às 17h

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