Nova versão da série 'Perdidos no Espaço' tem tom mais verossímil e sombrio

Pioneira na ficção científica para a TV, produção dos anos 1960 tinha faceta cômica

Rodrigo Salem
Vancouver (Canadá)

A família Robinson se reúne na nave espacial Júpiter 2. John e Maureen explicam aos filhos, Judy, Penny e Will (é claro), que somente o pai deles é capaz de resolver um problema que pode tirá-los do planeta onde estão encalhados.

O caçula pergunta se o pai pode prometer retornar com vida. "Não posso fazer isso", rebate John com frieza militar.

Enquanto o garoto sai contrariado e calado, uma frase icônica parece ecoar na mente de todos que veem a cena gravada em Vancouver (Canadá): "Perigo, Will Robinson, Perigo!".

A Folha acompanhou em maio de 2017 as filmagens da nova versão de "Perdidos no Espaço", uma das mais conhecidas séries de ficção científica da TV, que estreia nesta sexta-feira (13) na Netflix.

A atração original foi criada em 1965 pelo produtor Irwin Allen (1916-1991). Agora, nas mãos da Netflix, a história da família que vaga no espaço em busca de um novo lar troca a faceta cômica da antiga série (e do filme fracassado de 1998) por dez episódios dramáticos e repletos de efeitos especiais caros.

"Quando ganhei a oportunidade de refazer o programa, não pensei em reinventar os personagens, mas adaptá-los para uma realidade moderna e verossímil", explica à Folha o produtor Burk Sharpless, que se inspirou no "Star Trek" (2009) de J. J. Abrams para encontrar o equilíbrio entre homenagens e atualizações.

"Temos temas sérios como inteligência alienígena, mas bastante humor. Espero agradar velhos e novos fãs."

O novo "Perdidos no Espaço" toma outras liberdades criativas, sendo a maior delas a escolha da atriz Parker Posey ("Pânico 3") para viver a Dra. Smith, papel que ficou famoso pelas mãos de Jonathan Harris (1914-2002).

"Harris foi tão criativo. Era obcecada por ele quando tinha seis anos, era divertido e charmoso. Adorei homenagear esse personagem criando a minha Smith de maneira diferente, ainda mais ambígua", afirma Posey. "Ela é ainda mais ambígua."

A trajetória da Dra. Smith e dos personagens, inclusive o mecânico Don West (Ignacio Serricchio), é contada por meio de flashbacks.

Descobrimos que daqui a dezenas de anos a Terra sofre um impacto de um meteoro e logo se tornará inabitável. Para evitar a extinção da raça humana, centenas de naves são lançadas de uma base em órbita rumo à Alpha Centauri.

Os Robinsons sofrem um acidente e terminam presos em um planeta, até que encontram a Dra. Smith, West e a última peça do xadrez: o robô.

Ao contrário daquele visual de liquidificador com braços de borrachas (controlados pelo ator Bob May, de dentro da peça) dos anos 1960, o novo Robô é uma máquina alienígena que mais lembra uma mistura de Robocop com Ultron, de "Vingadores".

"Ele é uma arma, um viajante de sabedoria antiga e um protetor", descreve o designer de produção Ross Dempster.

Mas assim como no "Perdidos no Espaço" original —que teve apenas três temporadas (uma em preto e branco e duas coloridas)—, o Robô tem uma relação especial com o garotinho Will Robinson.

"Eles dependem um do outro e há uma confiança mútua. Eles não seriam as mesmas pessoas se não andassem juntas", resume o ator-mirim Maxwell Jenkins (de "Sense 8"), lembrando da ausência do pai do personagem durante boa parte da vida de Will. "O robô é tudo que estava faltando na vida dele."

O drama pode incomodar alguns que esperam uma comédia mais leve. A família Robinson volta e meia precisa equilibrar situações de risco de morte com brigas íntimas.

"O casamento não está bem, meu personagem passa muito tempo longe de casa. Quando eles caem neste planeta, precisam resolver como sobreviver e lidar uns com os outros", conta Toby Stephens (de "Black Sails"), que interpreta John Robinson.

"É uma grande aventura", completa Molly Parker (de "House of Cards), que vive Maureen. "E há humor. Afinal, veja a ironia de ter uma família discutindo coisas mundanas em um outro planeta."

O jornalista RODRIGO SALEM viajou a convite da Netflix
 

 

PERDIDOS NO TEMPO

A saga dos Robinsons em três momentos

Divulgação

1965-1968

Pioneira na ficção científica para a TV, a produção de Irwin Allen era uma aventura bem-humorada com monstros reciclados de outros shows dele. O foco era a família e não termos científicos. Há influência de 'Robinson Crusoé', de Daniel Defoe. Jonathan Harris (foto) ficou famoso pelo papel de Dr. Smith
 

Reprodução

1998

O diretor Stephen Hopkins criou uma ficção científica dark e centrada na ação. Teve bilheteria medíocre (US$ 136 milhões) e avaliações destruidoras de críticos e do público. O elenco teve a participação de diversos atores da série original e de atores famosos, como Gary Oldman e Matt Leblanc, o Joey de 'Friends'

Cena de Perdidos no Espaço
Divulgação

2018

Os dez episódios de uma hora cada focam a família aventureira e os problemas cotidianos em cenários extraterrestres. A série se passa daqui a 30 anos. Parker Posey traz um pouco do charme cômico da produção original. Molly Parker (esq.), de 'House of Cards', vive a matriarca engenheira aeroespacial


NA INTERNET

PERDIDOS NO ESPAÇO

Estreia da série de dez episódios

QUANDO nesta sexta-feira (13) , na Netflix

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