Descrição de chapéu

Sóbrio 'Canções em Pequim' acerta ao valorizar o humano

Diretora Milena de Moura Barba realça sentimentos de entrevistado naturalmente

Cena de "Canções em Pequim", de Milena de Moura Barba (É Tudo Verdade 2018)
Cena de "Canções em Pequim", de Milena de Moura Barba - Divulgação
SÉRGIO ALPENDRE
São Paulo

canções em pequim

  • Preço em SP, sáb. (14), às 15h, no IMS; dom (22), às 17h, no CCSP; no Rio, dom. (15), às 16h, no Estação Net Botafogo
  • Produção China, 2018
  • Direção Milena de Moura Barba

De que maneira fazer um filme com entrevistas e não cair no "mais do mesmo", quando tais entrevistas são inevitáveis? 

Eduardo Coutinho popularizou o método ideal nesse sentido: assumir o formato; fazer do filme uma sucessão de entrevistas, sem qualquer imagem externa, só com as pessoas que falam.

Esse é o método empregado por Milena de Moura Barba em seu "Canções em Pequim". A diretora brasileira se inspirou em "As Canções" (2011), um dos filmes mais problemáticos de Coutinho, para entender as mudanças culturais e sociais da China nos últimos anos.

Para isso, entrevistou 14 moradores de Pequim e pediu que cantassem uma música, explicando a escolha e as mudanças que tal música acarretou em suas vidas, ou as memórias que traz.

No caso, a discípula se saiu melhor que o mestre, ao evitar um tipo de chantagem emocional que Coutinho costumava fazer com o espectador e que consistia em algumas artimanhas para fazer o entrevistado se emocionar. Isso ocorre de modo exagerado em "As Canções".

Em "Canções em Pequim", Milena de Moura Barba parece deixar que isso aconteça naturalmente.
O cenário único é sóbrio, uma simples cadeira colocada num palco escuro com uma cortina escura por trás. Algo como uma versão ainda mais austera do cenário de "Jogo de Cena", outro importante filme de Coutinho.

No mais, é dar valor ao humano, ao que deles se desprende num jorro de lembranças e emoções que surgem sem que tenham de ser conquistadas a fórceps.

Trata-se apenas do humano com o fundo negro por trás, realçando seus sentimentos naturalmente, com discretas e harmônicas (e nada intrusivas) aproximações da câmera.

Em alguns momentos, percebemos que a diretora conhece todos ali —provavelmente porque cursou sua pós-graduação em documentário na Academia de Cinema de Pequim. 

 

Esse conhecimento prévio ajudou a diretora a conseguir emoções genuínas dos entrevistados e interpretações sensíveis das canções lembradas por eles.

Em pelo menos uma cena, o entrevistado dá ideia de que há mais pessoas conhecidas por trás da câmera. Talvez outros entrevistados, ou alguém da equipe arregimentada pela brasileira.

"Canções em Pequim" nunca deixa de despertar nosso interesse, seja pela expressão das pessoas às voltas com felizes ou doloridas lembranças, seja pelo pouco mais que ficamos conhecendo da cultura chinesa e da relação dos brasileiros com ela, ontem e hoje.

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