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Cinema

'Ciganos da Ciambra' retrata família que vive de pequenos delitos na Itália

Protagonista Pio, 14, é versão contemporânea de pivete retratado em filmes como 'Pixote'

Pio Amato em cena do filme Ciganos da Ciambra
Pio Amato em cena do filme 'Ciganos da Ciambra' - Divulgação
Cássio Starling Carlos
São Paulo

Ciganos da Ciambra

  • Quando estreia nesta quinta (3)
  • Elenco Pio Amato, Koudous Seihon, Damiano Amato
  • Produção Itália/Brasil/Alemanha/França/Suécia/EUA, 2017.
  • Direção Jonas Carpignano

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A câmera na mão, trêmula, denota urgência. Os personagens guardam o mesmo nome dos atores não profissionais que os interpretam. O universo degradado completa o quadro para um tipo de cinema comprometido com a revelação de mazelas sociais.

Em "Ciganos da Ciambra", o diretor Jonas Carpignano reafirma seu interesse pelas condições de vida de populações excluídas. Na estreia, com "Mediterranea" (2015), o realizador ítalo-americano registrou a travessia de imigrantes africanos que tentam chegar à Itália e, quando conseguem, encontram hostilidade.

O foco de "Ciganos de Ciambra" é a situação marginal de uma família que vive de pequenos delitos na região de um porto na Calábria.

Cena do filme 'A Ciambra'
Protagonista de ‘Ciganos de Ciambra’, Pio (dir.) é transportado por um amigo imigrante - Divulgação

A estética semidocumental adotada por Carpignano mergulha no cotidiano dos Amato e cola nos corpos para sugerir proximidade entre as histórias que o filme relata e a vida dessas pessoas-personagens, a contiguidade entre a ficção-denúncia e a verdade factual.

Nesse sentido, o filme retoma escolhas formais codificadas pelo cinema dos irmãos Dardenne há mais de duas décadas e que se tornaram um modo automático de manifestar "realismo".

Carpignano adota o procedimento como fórmula visual, sem questionar se o uso tão recorrente não interfere no que essas imagens instáveis podem transmitir.

Apesar da fadiga desse reuso, o tremor visa expressar a urgência e captar a energia do percurso de Pio, protagonista de 14 anos que o longa escolhe como epicentro do drama.

 

Nesse universo em que a ideia de lei não guarda sentido, o olhar confuso do protagonista registra e tenta se inserir num mundo adulto organizado em torno de diversos tipos de trapaças e crimes.

Pio é uma versão contemporânea de pivetes retratados em "Pixote: a Lei do Mais Fraco" (1981), "Os Incompreendidos" (1959) e "Vítimas da Tormenta" (1946), que denunciavam o abandono como matriz da criminalidade e devolviam ao espectador sua cota de responsabilidade.

Mas, talvez, ao contrário de seus antecessores, a visibilidade de Pio no circuito de festivais só intensifique a anestesia do público, que aplaude indignado e acredita ter assim reagido ao choque da realidade.

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