'Quem se beneficia é quem prega o medo', diz brasileiro produtor de show em Israel cancelado por Gilberto Gil

Daniel Ring pede que baiano reconsidere decisão: 'Melhor protesto seria vir fazer o show'

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São Paulo

Produtor do show cancelado por Gilberto Gil em Tel Aviv, o brasileiro Daniel Ring pediu ao músico baiano que reconsidere sua decisão.

“Não sei se foi um boicote, mas quem se beneficia com o cancelamento são setores que pregam o medo e que se mantêm no poder com essa estratégia”, escreveu Ring em uma publicação no Facebook.

Na terça (22), a produção do artista comunicou que ele cancelou apresentação que faria em Tel Aviv, em julho, devido à “apreensão” com “um momento sensível”.

O cancelamento acontece após o Exército israelense matar cerca de 60 palestinos durante um protesto na faixa de Gaza, em Israel. Desde março, mais de cem palestinos foram mortos.

Gilberto Gil durante apresentação no Bar Brahma, em São Paulo, em janeiro de 2017
Gilberto Gil durante apresentação no Bar Brahma, em São Paulo, em janeiro de 2017 - Joel Silva - 25.jan.2017/Folhapress

O comunicado informou que Gil ama Israel e que “haverá outras oportunidades” em “tempos melhores”.
Há 11 anos vivendo no país, para onde se mudou para estudar música, Ring afirmou à Folha que a seletividade do boicote é incoerente.

"Se fosse assim, teria de boicotar também o Brasil, pela situação política e de desrespeito aos direitos humanos. Teria de boicotar os EUA, a Venezuela, Cuba."

Segundo Ring, uma forma melhor de protestar seria "vir, fazer o show e deixar sua crítica dando entrevistas a jornais daqui, visitando movimentos sociais com os quais se identifica".

Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, Gil ainda não respondeu à reportagem.

O show reuniria Gil e amigos, como Mayra Andrade, Bem Gil (seu filho), Chiara Civello e Mestrinho, em torno do repertório do clássico disco "Refavela" (1977). Ring também é músico e é membro do conjunto de choro Chorolê, que faria a abertura do show de Gil.

O produtor diz que ele e sua equipe ficaram sabendo do cancelamento pela imprensa, “apesar de estarmos em contato constante com a produção do artista”.

Citando respeito e admiração, ele termina com um apelo:

“Há uns 20 anos meu pai me colocou pra ouvir o disco 'Expresso 2222'. Em uma das músicas você diz assim: 'O sonho acabou/ Quem não dormiu no sleeping bag nem sequer sonhou'. Peço que reconsidere a decisão. Até lá, vou dormindo no sleeping bag...”

A decisão de Gilberto Gil também recebeu elogios de artistas e entidades

O movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) disse que recebeu “calorosamente” a notícia.

O grupo-movimento defende o boicote econômico, acadêmico, cultural e político a Israel para pressionar pelo pelo fim da ocupação de territórios palestinos.

Caetano Veloso, junto de quem Gil se apresentou em Tel Aviv em 2015, também sob críticas até do ex-Pink Floyd Roger Waters, defendeu a decisão do amigo sob a ótica da preservação “emocional”.

 
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