Produtor do show cancelado por Gilberto Gil em Tel Aviv, o brasileiro Daniel Ring pediu ao músico baiano que reconsidere sua decisão.
“Não sei se foi um boicote, mas quem se beneficia com o cancelamento são setores que pregam o medo e que se mantêm no poder com essa estratégia”, escreveu Ring em uma publicação no Facebook.
Na terça (22), a produção do artista comunicou que ele cancelou apresentação que faria em Tel Aviv, em julho, devido à “apreensão” com “um momento sensível”.
O cancelamento acontece após o Exército israelense matar cerca de 60 palestinos durante um protesto na faixa de Gaza, em Israel. Desde março, mais de cem palestinos foram mortos.
O comunicado informou que Gil ama Israel e que “haverá outras oportunidades” em “tempos melhores”.
Há 11 anos vivendo no país, para onde se mudou para estudar música, Ring afirmou à Folha que a seletividade do boicote é incoerente.
"Se fosse assim, teria de boicotar também o Brasil, pela situação política e de desrespeito aos direitos humanos. Teria de boicotar os EUA, a Venezuela, Cuba."
Segundo Ring, uma forma melhor de protestar seria "vir, fazer o show e deixar sua crítica dando entrevistas a jornais daqui, visitando movimentos sociais com os quais se identifica".
Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, Gil ainda não respondeu à reportagem.
O show reuniria Gil e amigos, como Mayra Andrade, Bem Gil (seu filho), Chiara Civello e Mestrinho, em torno do repertório do clássico disco "Refavela" (1977). Ring também é músico e é membro do conjunto de choro Chorolê, que faria a abertura do show de Gil.
O produtor diz que ele e sua equipe ficaram sabendo do cancelamento pela imprensa, “apesar de estarmos em contato constante com a produção do artista”.
Citando respeito e admiração, ele termina com um apelo:
“Há uns 20 anos meu pai me colocou pra ouvir o disco 'Expresso 2222'. Em uma das músicas você diz assim: 'O sonho acabou/ Quem não dormiu no sleeping bag nem sequer sonhou'. Peço que reconsidere a decisão. Até lá, vou dormindo no sleeping bag...”
A decisão de Gilberto Gil também recebeu elogios de artistas e entidades
O movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) disse que recebeu “calorosamente” a notícia.
O grupo-movimento defende o boicote econômico, acadêmico, cultural e político a Israel para pressionar pelo pelo fim da ocupação de territórios palestinos.
Caetano Veloso, junto de quem Gil se apresentou em Tel Aviv em 2015, também sob críticas até do ex-Pink Floyd Roger Waters, defendeu a decisão do amigo sob a ótica da preservação “emocional”.
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