Descrição de chapéu
crítica de filmes

Rico trabalho de Paulo José vem à tona em documentário não convencional

Mesmo com o diagnóstico de Parkinson, em 2001, o ator continuou atuando

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Todos os Paulos do Mundo

  • Quando Estreia na quinta (10)
  • Classificação 14 anos
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira

“Eu só me senti ator no cinema. No teatro, estava sempre dividido com outras tarefas, como diretor, cenógrafo. Em ‘O Padre e a Moça’ [seu primeiro filme], a única coisa que esperavam de mim era que fosse ator”, escreveu Paulo José, como destaca o recém-lançado documentário “Todos os Paulo do Mundo”. 

O ator gaúcho de 81 anos fez teatro e TV com razoável regularidade nas últimas cinco décadas, mas se consagrou mesmo pelas interpretações no cinema.

Foram mais de 40 filmes, quantidade louvável quando se leva em conta a irregularidade de produção no cinema brasileiro. Mesmo com o diagnóstico de Parkinson, em 2001, ele continuou a atuar, como em “Saneamento Básico” (2007), de Jorge Furtado.

Mais importante, no entanto, é avaliar os filmes que fez e como fez. Se considerarmos a interpretação masculina no cinema brasileiro, Paulo José talvez seja o maior nome em atividade no país. A diretores autorais, como Joaquim Pedro de Andrade e Domingos de Oliveira, ele sempre respondeu com inventivas composições de personagens.

Não faria sentido, portanto, produzir um documentário convencional sobre um ator tão inquieto. “Todos os Paulos do Mundo” se sai bem desse desafio. Em vez de enfileirar depoimentos, o filme de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira convidou atores e diretores próximos de Paulo José, assim como familiares, para ler trechos de textos escritos por ele. 

São fragmentos biográficos e reflexões sobre a interpretação. Não há imagens das leituras feitas pelos convidados. Só ouvimos o que dizem, e esses comentários dialogam com as cenas. A atriz Helena Ignez, por exemplo, fala sobre a primeira experiência de Paulo José no cinema, em “O Padre e a Moça” (1966). No longa de Joaquim Pedro, ele é o padre, ela, a moça.

A opção permite que Paulo José e seus personagens estejam na tela o tempo todo. Essa presença permanente poderia resultar monótona não fosse a rica variedade de personagens e a escolha cuidadosa das cenas. Está lá, evidentemente, o anti-herói de “Macunaíma” (1969), também de Joaquim Pedro, mas surgem ainda personagens menos lembrados, como o boêmio de “O Rei da Noite” (1975), de Hector Babenco.

“O espectador precisa olhar no fundo do meu olho e entender que tem gente morando ali dentro”, diz Paulo José. Em 52 anos de cinema, dezenas de personagens ganharam vida ali dentro graças ao seu talento.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.