Se festivais de rock ao ar livre já aconteciam nos EUA desde os anos 1960, com Monterey (1967) e Woodstock (1969), no Brasil da ditadura militar a moda demorou a chegar.
Houve o primeiro festival de Águas Claras, em 1975, e no ano seguinte Nelson Motta teve a ideia de realizar um evento na pacata cidade praiana de Saquarema, no Rio.
Batizado de Som, Sol e Surf, o festival reuniu grandes nomes do pop-rock brasileiro da época, como Raul Seixas, Rita Lee & Tutti Frutti, Vímana (banda que reunia Ritchie, Lulu Santos e Lobão) e Made in Brazil, e artistas que despontavam, como Angela Ro Ro. Os shows aconteceram simultaneamente a uma competição de surfe com os maiores surfistas brasileiros do período.
Os planos de Motta eram ambiciosos: ele queria aproveitar o festival para gravar um disco e fazer um documentário, como em Woodstock. Mas não foi o que aconteceu: o completo amadorismo da produção, aliada a uma forte tempestade, praticamente inviabilizaram o evento.
Uma parte do muro caiu, o público invadiu o local, e a primeira noite de shows foi cancelada. A equipe que fazia o filme do festival trabalhou em condições precárias. O filme e o disco nunca saíram, e Nelson Motta quase faliu. Por mais de quatro décadas, a maioria do material filmado permaneceu inédita. Até agora.
O diretor Hélio Pitanga e o produtor Denis Feijão contaram com a ajuda de Hernani Heffner, conservador-chefe da Cinemateca do MAM carioca, e restauraram o material, que é absolutamente extraordinário: temos Rita Lee, no auge da beleza e sex appeal; e Raul Seixas comandando a massa numa versão de "Sociedade Alternativa"; e um surpreendente Ronaldo Resedá em fase roqueira, interpretando o clássico "Be Bop a Lula".
Pitanga misturou esse material a depoimentos de pessoas que trabalharam ou que estiveram no festival, e fez um bonito e informativo relato sobre um evento marcante da cultura pop brasileira. Entre os entrevistados estão Nelson Motta, Angela Ro Ro, Lobão, Liminha, o crítico musical Tárik de Souza, Jom Tob Azulay e outros.
É divertido ver o depoimento do então prefeito de Saquarema, contando como a invasão daquela turma "prafrentex" de hippies e surfistas mudou a rotina do lugar.
O festival de Nelson Motta foi um retumbante fracasso comercial, mas é uma espécie de símbolo de uma época de idealismo, paixão e amadorismo do pop brasileiro, que o filme de Hélio Pitanga agora resgata.
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