Descrição de chapéu
Livros

Obra de Marcelo Montenegro se caracteriza por imagismo e musicalidade

'Forte Apache' permite um olhar panorâmico para a produção poética do autor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O poeta Marcelo Montenegro
O poeta Marcelo Montenegro, autor de 'Forte Apache' - Marcus Steinmeyer/Divulgação
Rodrigo Garcia Lopes

Forte Apache

  • Preço R$ 39,90 (120 págs.)
  • Autoria Marcelo Montenegro
  • Editora Companhia das Letras

"Forte Apache" permite um olhar panorâmico para a produção poética de Marcelo Montenegro até aqui: a parte de inéditos que dá título ao volume, de 2017, mais "Garagem Lírica" (2012) e "Orfanato Portátil" (2003).

São poemas quase sempre curtos (uma a duas páginas), em versos livres, leves e imagéticos. Há um pouco de tudo: poemas de amor, anedóticos, meta-poemas, poemas-colagem, mini-reflexões. E outros em que a musicalidade beira a canção (ele acaba de lançar o CD "Tranqueiras Líricas").

Surgido no começo dos anos 2000, lírico e intertextualista, Montenegro tem nas imagens um de seus fortes: a capacidade de tornar o ordinário extraordinário, provocando estranhamento no leitor.

Este se depara com um "céu esfolado, anjos em triciclos", "a grama aparada da simplicidade". Takes e cenas breves como "um cachorro mancando na aurora". É poesia movida por pequenas epifanias, muitas vezes aparentemente "irrelevantes": "Canetas que falham ao lado do telefone. / O baque das havaianas na escadaria". Ou ainda: "a brisa que, / por um microssegundo, / inflou a cortina da sala".

"Mostre, não explique" é uma boa lição aprendida. Há uma preocupação evidente com a concisão e a música das palavras, mesmo coloquiais. Estas duas características de "Forte Apache" (imagismo e musicalidade) já o diferenciam da prosa aleatoriamente cortada em linhas e batizada de poesia, presente em parte da lírica brasileira hoje.

A anáfora (repetição de uma palavra em versos subsequentes) e o paralelismo (a repetição de padrões sintáticos similares ao longo do poema) são recorrentes em todo o livro.

Por um lado, o uso reiterado desses recursos pode parecer insistente e repetitivo. Por outro, o emprego amarra e estrutura os versos, cria ritmo, funcionando como estratégia de argumento e convencimento poético. Acaba por dar unidade estilística à obra.

O mesmo ocorre com outro elemento formal que se repete na poesia do autor: a citação. O caráter efêmero e intertextual de seus poemas (as citações e referências sendo "peças fundamentais", como o autor assume nos créditos), sobretudo na mais recente, revela que o poeta fala tanto a partir de seu "eu lírico" quanto da cultura saturada de informações que o rodeia. É um risco que alguns poetas hoje parecem gostar de correr.

​Rodrigo Garcia Lopes
Escritor e crítico literário

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.