Conceição Evaristo recebe um voto na ABL, e Cacá Diegues é eleito novo imortal

O pesquisador Pedro Corrêa do Lago, o outro favorito, teve 11 votos

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O cineasta Cacá Diegues
O cineasta Cacá Diegues - Greg Salibian/Folhapress
Rio de Janeiro

​Após uma disputa incerta, o cineasta Cacá Diegues, 78, foi eleito para ocupar a cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele recebeu 22 dos 35 votos, e o colecionador de manuscritos e pesquisador Pedro Corrêa do Lago, 11.

A escritora Conceição Evaristo teve um voto, e houve um em branco. Normalmente acompanhada com indiferença pelo público, esta eleição gerou atenção justamente por causa de uma campanha na internet a favor de Evaristo, com 25 mil assinaturas.

O pedido dos apoiadores era que a autora de "Ponciá Vicêncio" fosse a primeira mulher negra a se tornar uma imortal da ABL. À exceção de Domício Proença Filho, a academia é composta majoritariamente por brancos, mas vale lembrar que já houve outros homens negros, como Machado de Assis, um de seus fundadores, e João do Rio.

Militantes do movimento negro que aguardavam a votação nesta quinta (30) na porta da ABL, no centro do Rio, lamentaram o resultado, mesmo que ele já fosse esperado. 

"A gente sabia que era muito difícil [ela ganhar], mas era importante pra gente ter alguém negro", disse o cientista político Vitor Dell Rey, que foi ao local com mais três amigos.

Segundo membros da academia, a campanha a favor de Evaristo é legítima e positiva, mas a escritora não recebeu mais votos porque não seguiu o ritual tradicional para conseguir o posto.

"A Conceição tem todas as qualificações para entrar, mas faltou a ela se apresentar. É como se eu dissesse que quero entrar para o Flamengo sem pagar a inscrição", diz Proença Filho. "Mas essa cobrança da sociedade é ótima, mostra que a academia pertence aos brasileiros e chama a atenção para a questão."

Em julho, no coquetel de abertura da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), a própria autora dizia saber que não seria escolhida. Na ocasião, ela afirmou querer que sua candidatura servisse para provocar um debate. A reportagem tentou contatá-la nesta quinta, mas ela não atendeu.

Para o imortal Geraldo Carneiro, o aumento da presença negra na academia é "inexorável". "Acho que isso inevitavelmente vai acontecer, e a Conceição é um grande nome para isso. Tem outros grandes nomes também, como Ana Maria Gonçalves, Salgado Maranhão e Muniz Sodré", afirmou o poeta.

Cacá Diegues sucede o também cineasta Nelson Pereira dos Santos, morto em abril.Assim como o antecessor, Cacá e um dos expoentes do cinema novo, movimento de renovação estética que, a partir dos anos 1960, discutiu questões contemporâneas do país.

"Eu estou muito feliz. Achava, sim, que ia ganhar, mas não com tanto voto", disse Cacá durante o tradicional coquetel que o vencedor dá em sua casa após a votação. 

"Eu sempre tive essa aproximação com a literatura, desde adolescente, quando meu pai me fazia ler. Não me sinto fora do meu terreno, esse é o meu terreno também."

O diretor alagoano já concorreu três vezes à Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes. A primeira vez foi com "Bye Bye Brasil" (1980). Ele retornou à mostra neste ano com a exibição, fora da disputa, de "O Grande Circo Místico".

O longa-metragem deve estrear nos cinemas em 15 de novembro.

Com mais de 20 filmes no currículo, Cacá também dirigiu "Joana Francesa" (1973), "Xica da Silva" (1976), "Quilombo" (1984), "Orfeu" (1999) e "Deus É Brasileiro" (2003).

Em 2014, ele lançou a autobiografia "Vida de Cinema", que repassa momentos marcantes de sua carreira, como a relação com os também cineastas Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade.

A data de posse do cineasta ainda não foi marcada.

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