O biógrafo Jan Swafford mostra como o pensamento iluminista e libertário de Beethoven (1770-1827) vem da cosmopolita Bonn, sua terra natal, não da conservadora Viena onde se radicaria aos 22.
Supõe-se que ele tenha conhecido a “Ode à Alegria” de Schiller (1759-1805) —o texto que utilizaria no quarto movimento da “Sinfonia nº9” —ainda adolescente. A “Nona” estreou em 1824, quando Beethoven tinha 53 anos.
A obra segue intrigante para quem escuta e desafiadora para quem toca. Nesta semana, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) a programou em cinco récitas, duas a mais do que o habitual.
Regida pelo alemão Alexander Liebreich, a estreia na quarta (22) teve altos e baixos. No primeiro movimento ficou evidente a proposta de enfatizar as imitações —motivos passando de um instrumento a outro— em alta rotação.
A firmeza rítmica deu bons resultados no segundo movimento, quando o som de violinos e violas começou a arredondar, apesar do andamento um tanto rápido no “Trio”.
Esse excesso de “urgência” prejudicou, em geral, o cantábile das frases e o entrosamento entre os naipes, especialmente no terceiro movimento. Falhas pontuais (como a da escala solo da trompa) são riscos que fazem parte do jogo, mas havia um incomum nervosismo no ar.
Foi somente no aguardado finale que a Osesp achou o seu som costumeiro. Mas a velocidade deixou as vozes solistas niveladas, sem muito destaque, o que foi também prejudicado pelo seu posicionamento atrás das cordas.
Pontos altos foram os coros —bem preparados, firmes e ensaiados— e as cordas graves, com contrabaixos concentrados e seguros, saboreando cada frase.
Em tempos de compressão de frequências em arquivos de áudio, curtir os graves de uma boa orquestra é motivo que justifica, em si, a aposta na experiência da música ao vivo.
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