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Filme expõe vulnerabilidades de Robin Williams

Estreia da HBO repassa a vida do comediante, de suas performances ao vício em drogas e o suicídio

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Imagem do documentário ‘Robin Williams: Come Inside My Mind'
Imagem do documentário ‘Robin Williams: Come Inside My Mind' - Mark Sennet/Divulgação
Marcelo Zorzanelli

Quando um desconhecido Jimi Hendrix chegou a Londres na segunda metade dos anos 1960, Eric Clapton viu um show seu e decidiu abandonar a carreira. A presença de palco, a pirotecnia técnica e o improviso pareciam anunciar uma nova era. Acabou que Hendrix era único, e a carreira de Clapton segue até hoje. 
Coisa idêntica aconteceu quando David Letterman viu o primeiro show de Robin Williams nos anos 1970.

“Ele podia voar, por causa da energia. Era como observar um experimento”, afirmou o apresentador ao documentário “Robin Williams: Come Inside My Mind”. O fato de que Letterman e outros comediantes famosos pensaram em se aposentar após ver Williams dá a noção do impacto que o intérprete teve no showbiz. 

Conhecemos o ator de trejeitos exagerados de “Uma Babá Quase Perfeita”, “A Gaiola das Loucas “ e alguns dramas de qualidade variável. 

Mas Williams já era capa da revista Time antes de pisar num set de Hollywood. Ganhou uma sitcom sem grande esforço e, de tão ingênuo, adorou o salário semanal de US$ 1.500, sendo que ouviu errado e ganharia US$ 15 mil.

O principal trunfo do documentário é mostrar as vulnerabilidades do ator que aterrorizou os colegas com seu desprezo pelo roteiro e sua atividade frenética. Williams atravessa o filme como um foguete que, infelizmente, sabemos que vai explodir (ele se suicidou em 2014 após um diagnóstico de Parkinson).

Ele precisava de atenção, mais do que de oxigênio. Quando o jovem tímido descobriu que podia fazer os outros rirem, logo se viciou. “É como sexo, mas sem a culpa”, disse sobre se apresentar. 

Às vezes, é dolorido vê-lo no palco mesmo quando a plateia ri. Ele vai da genialidade ao mau gosto em menos de um segundo. Williams é uma mente brilhante no corpo de um comediante que faria qualquer coisa medíocre para conseguir uma risada. Meio como ver um astro do jazz dos anos 1940 cantando “Batatinha Quando Nasce” em troca de um saquinho de heroína. 

Esse desespero fica mais patente na segunda metade do filme. Quando não estava sobre o palco, sentia-se um fracasso. O amigo Eric Idle, do Monty Python, diz que ele não via qualquer valor em si. O filho Zak se sentia mal pelo pai quando ele estava em casa, longe do público. “Isso sempre foi difícil de assistir”, diz.

Para manter essa mente em estado de saciedade, ele tentou de tudo: trilhas de cocaína que iriam à Lua e voltariam com folga, lagos de uísque, caminhões de mulheres. (Sobre o pó, uma frase lapidar: “Cocaína é a forma de Deus dizer que você está ganhando dinheiro demais”).

A única que funcionava era a risada alheia. “Ele precisava de um tipo de abraço que só um estranho podia dar”, diz o amigo e comediante Billy Crystal. 

Talvez o filme demore muito a entrar na mente do ator, como sugere o título. Começa tarde e termina rápido demais. De toda forma, é uma boa introdução aos bastidores da comédia americana dos loucos anos 1970 e início dos 1980, período com alguns dos melhores momentos do gênero que segue sendo idolatrado pelos comediantes atuais.

Robin Williams: Come Inside My Mind

  • Quando Estreia nesta segunda (6), às 22h
  • Onde HBO
  • Produção Estados Unidos, 2018
  • Direção Marina Zenovich
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