DJ Mauro Borges, ícone da cena gay paulistana, morre aos 56

Com longa carreira, DJ ajudou a levar a cena clubber ao mainstream

Eduardo Moura
São Paulo

Pioneiro da cena gay da noite paulistana, o DJ e produtor Mauro Borges fundou o bem-sucedido Clube Massivo, nos Jardins, em 1991.

A casa foi uma das precursoras da cena LGBT (à época chamada de GLS) e ajudou a levar a cultura clubber para o mainstream. Antes disso, Mauro foi residente do clube Nation, na rua Augusta, e vendedor numa loja de discos. 

Também nos anos 1990, ficou conhecido por fazer parte do grupo Que Fim Levou o Robin?, que gravou um álbum, fez turnê pelo Brasil e várias apresentações na TV. Foram três décadas “pulando, dançando vogue, animando corações e mentes brasileiras”, postou a amiga Bebete Indarte numa rede social.

“Um paizão clubber”, diz Claudia Assef, DJ e jornalista especializada em música eletrônica, ao se referir a Borges.

Ele era uma liderança da música eletrônica, numa época anterior à popularização da internet, em que se manter atualizado sobre as novidades custava caro. 

“Ao contrário de muita gente, Mauro era uma pessoa que compartilhava conhecimento, era uma figura muito carismática”, afirma Assef.

Para Erika Palomino, ele difundiu um tipo de diversão hedonista, "uma bagunça bem brasileira", diz. A jornalista, que nos anos 1990 comandou a coluna "Noite Ilustrada" na Folha, conheceu Borges na Nation, e os dois acabaram se tornando amigos próximos. "Ele não tinha medo das coisas consideradas cafonas. Tocava Gretchen, tocava Sidney Magal —e funcionava".

Seu repertório, sempre com toques de humor, costumava incluir hits de artistas como Madonna e Kylie Minogue. O DJ, que costumava se apresentar sem camisa, chegou a ser capa da revista G Magazine em 1998.

Borges também ajudou a cunhar gírias do universo gay brasileiro, como “mundinho”, “carão” e “montação”, além de ter dado espaço para apresentações de drag queens nas festas que promovia.

Com mais de 30 anos de carreira, o DJ morreu na manhã desta sexta-feira (31), aos 56 anos.

Sobre a vida pessoal, "dizem até que ele inventava muitas coisas". Segundo Palomino, Borges deixava —e gostava— que se criasse uma mitologia ao redor dele.  A causa oficial de sua morte é incerta, mas não faltam versões. 

Questionada sobre a infância de Borges em Campinas, a amiga Bebete Indarte diz que ele "odiava falar da vida privada. Era uma pessoa reservada". 

Borges estudou jornalismo na PUC de Campinas e artes dramáticas na Unicamp. Durante a faculdade, era o DJ oficial das festinhas e promotor de eventos do diretório central dos estudantes. Mudou-se para São Paulo em 1985.

O corpo de Borges será enterrado em Campinas. Ele deixa muitos amigos e fãs.

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