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Moda

Moda masculina enfim abandona falsas verdades e se torna menos protocolar

Desfiles destravam guarda-roupa sóbrio do escritório para apostar em shorts, cores e flores

Pedro Diniz

​Certas falsas verdades sobre o que os homens gostam de usar caíram no esquecimento. Após uma longa jornada de casacos militares e roupas camufladas e de uma obsessiva busca pela alfaiataria mais rígida e pelas gravatas de todas as texturas, a moda masculina virou a chave do século para entrar em uma segunda década de estilo menos protocolar.

Se as cores, as estampas e os acessórios eram até pouco tempo restritos às marcas ditas experimentais, as grifes de luxo caíram na real e perceberam que não adianta mais tocar na mesma tecla da roupa sóbria de escritório. 

O motivo é simples. A nova leva de consumidores —jovens com uma percepção mais abrangente do guarda-roupa— não batem mais ponto, movimenta-se mais do que a geração dos pais e quer distância das cartilhas de estilo.

Os desfiles da temporada internacional de verão 2019 ilustram o movimento. A grife italiana Ermenegildo Zegna, epítome daquilo que se entende por alfaiataria para homens de negócios, transformou o estereótipo de elegância com roupas esportivas.

Pela tesoura do estilista Alessandro Sartori, a marca iluminou as cores do crepúsculo em seus conjuntos de blazer esportivo, o novo paletó, nas calças de modelagem ampliada, por vezes ajustadas no tornozelo, e nas camisetas, a nova camisa desse look de trabalho sem compromisso.

Nesse desfile de 50 anos da linha de prêt-à-porter da Zegna, a marca ratifica uma visão de masculinidade desconstruída e já cantada pela moda na virada do século. Soa mais como crivo da disrupção que acompanha as linhas masculinas de grifes mais conhecidas pelo traje feminino.

Uma das mais famosas dessas etiquetas, a Louis Vuitton, desfilou em Paris a primeira coleção de seu novo diretor criativo. Um arco-íris de possibilidades tomou a passarela, com bolsas de plástico e roupas de viés esportivo.

Seria mais uma troca das várias que acontecem anualmente na moda, não fosse o fato de que o novo guru da grife centenária é Virgil Abloh.

Esse estilista americano de 37 anos e fundador da etiqueta Off-White, é o maior nome da corrente de estilo urbano que colou em clientes jovens de tênis pesados, cintos de visual industrial e moletons folgadões customizados.

Se depender da Vuitton, o “street” plástico, cheio de referências ao visual dos rappers e adorado pela juventude que curte postar suas aquisições nas redes sociais será o norte das novas coleções.
Trocando em miúdos, é o espírito nômade que recheará as araras nos próximos anos. 

Seja nas roupas ensolaradas, como os floridos da estreia de Kim Jones no estilo da Dior Homme, seja nas propostas funcionais, como os conjuntos de alfaiataria combinados a pochetes a tiracolo da Hermès, o novo uniforme masculino é pensado para homens em movimento.

Há, de fato, uma quebra de paradigmas. Baseado na história da moda feminina, a Prada imagina o equivalente masculino da minissaia, peça cujo comprimento levou mobilidade às garotas e abriu espaço para um sentido de liberação do corpo delas. O cerne do verão 2019 da grife são os shorts curtíssimos.

A imagem é de escoteiro moderno, que Miuccia Prada imagina acoplada a blusas tingidas de cores fortes, ácidas, com várias propostas de estampas. Chapéus de náilon, material chave da marca nas últimas temporadas, e bolsas enroladas ao ombro completam o combo imagético combinado aos minishorts.

Caminho similar traçou Thom Browne, estilista pouco conhecido no Brasil mas que muitos na moda veem como “o pensador” do estilo masculino no hemisfério Norte. 

Ele resume o ideal de libertação com propostas que reinterpretam as roupas e os signos da infância, época da vida na qual os meninos não são julgados pelo que vestem.

Tons de sorvete, listras, chapéus de soldado, estampas de barco, shortinhos de alfaiataria combinados a paletós. 

Browne testa os limites da masculinidade relembrando aos homens que as regras de estilo autoimpostas são um produto de décadas de pode-não-pode cujas regras travaram o homem pós-1980.

Independentemente do perfil de homem que se quer aparentar, agora, pode tudo.

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