Viagra pop em tempos estanques, Madonna se mantém um amuleto para as grifes

Não é exagero afirmar que a diva foi o cabide mais desejado do mundo no século 20

Pedro Diniz
São Paulo

O look "tipo uma virgem" que a moda hoje vende como último grito de estilo e a penca de referências à religião cujos signos adornam os panos mais luxuosos do mercado não são novidades. Todos eles um dia passaram pelo corpo de Madonna.

Não seria exagero afirmar que a diva foi o cabide mais desejado do mundo no século 20. E sobram porquês.

A Dolce & Gabbana não teria ganhado fama de porta-voz do sexy desavergonhado não fossem os mais de mil looks criados pela marca para a "Girlie Tour", de 1993; a Givenchy não teria despido a pecha de aristocrata e alcançado um patamar de ícone pop sem os looks fetichistas da turnê "Sticky & Sweet", de 2008; e nem a revista Vogue teria seu nome colado no cérebro até de quem nunca a folheou.

O inacreditável é que, 35 anos depois de "Lucky Star", o seu passe na moda permanece intocado, como uma estrela da sorte para as grifes.

Não há Lady Gaga que arranhe o trono. Sua stylist há décadas, Arianne Phillips é prioridade na lista das apresentações privadas que marcas promovem nas semanas de desfiles e seus looks no baile anual do Metropolitan são, bem ou mal, a última palavra do que se entende por "fashion".

Foi seu melhor amigo na moda, o francês Jean Paul Gaultier, quem a colocou nos holofotes da costura. O sutiã cônico, peça mais copiada por qualquer aspirante a símbolo sexual, relegou ao passado a imagem de "femme fatale" dos filmes noir e a substituiu pela garota liberta, orgulhosa dos mamilos duros de tesão.

Como Viagra da cultura pop em tempos estanques —"Erotica", de 1992, foi a ereção reagindo ao recato do pós-Aids e "Confessions on a Dance Floor", de 2005, uma banana para o marasmo das pistas—, ela usa a moda para desafiar toda a normalidade aparente.

A capa da última Vogue italiana, capitaneada pelo amigo de longa data, o brasileiro Giovanni Bianco, ironiza a imagem da sexagenária americana, branca e loira, orgulhosa da bandeira na era Trump.

Madonna se transmuta na imigrante —no caso, em Lisboa— que não esconde o sangue latino no vestido florido e a meia-calça aparente. Como se chamasse para um próximo ato, diz: "Faça uma pose".

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