Descrição de chapéu

Em sutil jogo ótico, Almir Mavignier sugere formas que aparecem e desaparecem

Artista e designer morreu aos 93, nesta segunda (3), na Alemanha

Tiago Mesquita
São Paulo
Obra de Almir Mavignier - Divulgação

O artista e designer Almir Mavignier morreu nesta segunda (3), em Hamburgo, aos 93 anos, em decorrência de um câncer no cérebro.

Mavignier foi um dos pioneiros na abstração geométrica brasileira e com Mário Pedrosa, Ivan Serpa e Abraham Palatnik fundou o núcleo de arte construtiva do Rio de Janeiro, no fim dos anos 1940.

O artista foi decisivo na atualização das vanguardas brasileiras e colocou em diálogo pintura, desenho industrial e as teorias modernas de percepção visual. 

Nascido no Rio de Janeiro, teve uma formação modernista desde muito jovem. Frequentou as aulas com artistas europeus, refugiados no Rio, em função da Segunda Guerra Mundial, como Arpad Szenes, Axl Leskoschek e Henrique Böese. 

Em 1946, atrás de um emprego que lhe permitisse pintar, torna-se monitor no serviço de terapia ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro 2º, no Engenho de Dentro, fundado por Nise da Silveira.

Lá, administra um ateliê de arte frequentado por pacientes com sofrimento mental. A experiência foi decisiva para a sua trajetória e um dos marcos da arte moderna brasileira.

Em contato com “clientes” como Emygdio de Barros e Raphael Domingues, passa a entender a arte como um lugar de regeneração da percepção e da subjetividade. A produção dos artistas do sanatório o aproxima do crítico de arte Mário Pedrosa.

O artista Almir Mavignier posa ao lado de obra na exposição 'Poetas da Cor', no MAC de Niterói (RJ) - Letícia Pontual/Folhapress

O intelectual voltara há pouco dos Estados Unidos, onde se aproximou da arte abstrata e das reflexões sobre a psicologia da forma. Os diálogos entre Pedrosa, Mavignier, Ivan Serpa e Abraham Palatnik aproximarão as potencialidades observadas no hospital no Engenho de Dentro e o desenvolvimento das relações formais objetivas da arte abstrata.

Já em diálogo com a arte concreta, por meio das ideias de Pedrosa, de Tomas Maldonado e Max Bill, sua produção passa a organizar as formas em jogos de informação visual. 

Mavignier não participa das polêmicas entre concretistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Em busca dos desdobramentos mais avançados na relação da arte com a sociedade industrial, se muda para Paris, em 1951. Dois anos mais tarde, matricula-se na recém-aberta Hochschule für Gestaltung (Escola Superior da Forma), em Ulm, na Alemanha onde estuda comunicação visual.

A instituição era o centro europeu do concretismo. Mavignier frequenta as aulas de Max Bense, Joseph Albers e convive com Max Bill, Camille Graeser e Verena Loewensberg.

Sua pintura passa a trabalhar de acordo com a ideia gráfica de retícula aproximando pontos de tinta dispostos serialmente na tela com diferentes intensidades.

Mavignier diz que a ideia se baseia no conceito de ponto de energia, de Paul Klee. Os toques regulares de tinta em relevo modulam diferentes intensidades rítmicas. Tal relação entre as partes e o todo o aproxima da op art.

Em 1957, Mavignier inicia os seus trabalhos monocromáticos. Radicaliza, elimina os contrastes entre fundo e forma e relaciona pequenos toques de tinta variando apenas tamanho, intensidade e direção.

Sugere formas que aparecem e desaparecem em um sutil jogo ótico. Esses desenvolvimentos o aproximam de artistas radicais da vanguarda alemã, como Heinz Mack, Otto Piene e Gunther Uecker, do Grupo Zero de Dusseldorf. 

No meio da carreira, Mavignier diz ter se desiludido com as condições do mercado de arte e concentrou seus esforços profissionais no projeto gráfico. Torna-se um dos inovadores da tipografia na Europa.

A lógica relacional, de aparecimento e desaparecimento da composição, migra das telas para o projeto gráfico. Nos seus cartazes, Mavignier passa a lidar não só com a percepção visual, mas também com a comunicação de massa. 

Professor de pintura na Escola Superior de Artes Plásticas de Hamburgo desde 1965, leciona para nomes importantes, como Isa Genzken. Almir Mavignier deixa um filho, um neto e a mulher. 

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