Descrição de chapéu

Melodrama sobre música sertaneja fica aquém de suas intenções

'Coração de Cowboy' traz ideia boa ao defender o sertanejo raiz, mas acaba maltratado pela execução

Alexandre Agabiti Fernandez

CORAÇÃO DE COWBOY

  • Quando Estreia nesta quinta (27)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Gabriel Sater, Jackson Antunes, Thaila Ayala, Thaís Pacholek, Françoise Forton
  • Direção Gui Pereira

Ambientado no mundo da música sertaneja, este melodrama pretende defender a bandeira da autenticidade do gênero tradicional diante do artificialismo marqueteiro do chamado sertanejo universitário, que goza dos favores do público, especialmente o mais jovem.

A ideia é boa, mas acaba maltratada pela execução, repleta de fragilidades. O filme é um desfile de sentimentalismo lacrimogêneo, situações inverossímeis a ponto de se tornaram constrangedoras, personagens rasos –alguns deles não vão além da caricatura–, diálogos canhestros, subtramas dispensáveis, uma estética pobre –que recicla clichês da linguagem televisual, do videoclipe e da publicidade.

A excessiva quantidade de números musicais é outro problema, pois é em boa parte responsável pela lentidão com que a narrativa avança e faz o filme se esticar durante duas intermináveis horas.

O cantor e compositor Lucca (Gabriel Sater, filho do violeiro Almir Sater) arrasta multidões histéricas aos seus shows com canções pegajosas, tem fama e fortuna, mas não está satisfeito. Um dia, farto da constante ingerência e da castração artística que sofre por parte de sua empresária (Françoise Forton), larga tudo e volta à cidade natal.

Esse retorno às raízes, a uma suposta pureza musical, inclui também dois reencontros: com o pai (Jackson Antunes), do qual está afastado há muitos anos depois da trágica morte do irmão, e com Marcelle (Thaís Pacholek), parceira, ao lado do mesmo irmão, em um trio que tiveram na adolescência.

Lucca também conhece Paula (Thaila Ayala), atual dona do bar Cowboy, onde o trio se apresentava. Forte e independente, Paula acaba despertando a atração de Lucca –algo previsível desde o momento em que se encontram pela primeira vez–, relacionamento que o filme não consegue desenvolver adequadamente.

A reconciliação com o pai tampouco é bem conduzida, o que poderia ter enriquecido muito o núcleo do filme, a busca artística de Lucca –que acaba soando superficial–, pois a figura paterna encarna como nenhuma outra a música sertaneja de raiz –como fica demonstrado quando canta “Fogão de Lenha”, talvez o momento mais feliz do longa.

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