A última noite da competição em Brasília foi dedicada à luta das minorias sexuais: esse é o tom dos dois curtas e do longa documentário “Bixa Travesty”, apresentados no sábado (22).
Com isso, o Festival de Brasília reafirmou sua preocupação de dar voz a preocupações políticas (abriu-se, na sexta passada, com “A Torre da Donzela”, documentário sobre ex-prisioneiras políticas do tempo da ditadura -entre as detentas desse pavilhão feminino em São Paulo esteve a ex-presidente Dilma Rousseff).
Nos últimos dias, o grande destaque foi “Temporada”, de André Novais Oliveira, que venceu o principal prêmio no festival. Não propriamente uma novidade. Oliveira já tinha uma sólida carreira no curta-metragem e um longa promissor (“Ela Volta na Quinta”).
“Temporada”, no entanto, representa um salto impressionante, na medida em que o cineasta mineiro logrou algo só reservado aos artistas: fazer um filme capaz de interessar o espectador durante quase duas horas sem tratar de nenhum assunto, nenhum personagem, nenhuma paisagem, nada particularmente especial.
Ali vemos um grupo de funcionários do serviço de combate a endemias de Contagem, cidade industrial situada nas bordas de Belo Horizonte, MG. Entre eles está Juliana (a excepcional Grace Passô), que acaba de chegar de Itaúna. Enquanto começa a se entrosar com os colegas de serviço, espera pelo marido, que deve chegar em breve, e se instala numa casa que alugou com a ajuda de uma prima.
É certo que muitos de nós já ouviram falar do combate à dengue. Quantos, no entanto, sabem como se dá o combate ao mosquito causador da doença? Ou como são recebidos pelos moradores? Ou como entram para esse serviço? Qual o seu salário?
Sim, não é um grande tema. E a paisagem de Contagem não é assim tão especial: parece com qualquer periferia de classe média baixa, com seus bares, vielas, casas nunca terminadas. No entanto é nesses elementos que o cineasta vai encontrar beleza. É com eles que exerce sua bela prosa. O grupo de amigos, os segredos, pequenas intrigas, amores que começam a surgir etc.
Nada diferente da vida. Ao contrário: trata-se de captar a vida ao vivo. De jogar o espectador dentro dos eventos como se ele tivesse nascido lá.
Esse belo trabalho consolida a produtora mineira Filmes de Plástico como um dos polos mais criativos.
Veja abaixo os principais premiados:
Longa-metragem
Melhor filme: "Temporada"
Melhor direção: Beatriz Seigner ("Los Silencios")
Melhor ator: Aldri Anunciação ("Ilha")
Melhor atriz: Grace Passô ("Temporada")
Melhor ator coadjuvante: Russão ("Temporada")
Melhor atriz coadjuvante: Luciana Paes ("A Sombra do Pai")
Melhor roteiro: "Ilha", de Ary Rosa e Glenda Nicácio
Melhor fotografia: "Temporada", Wilsa Esser
Melhor direção de arte: "Temporada", Diogo Hayashi
Melhor trilha sonora: "Bixa Travesty"
Melhor som: "A Sombra do Pai", Gabriela Cunha
Melhor montagem: "A Sombra do Pai", Karen Akerman
Júri Popular
Melhor longa-metragem: "Bixa Travesty"
Prêmio Especial do Júri: "Torre das Donzelas"
Menção honrosa do Júri: "Bixa Travesty"
Curta-metragem
Melhor filme: "Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados"
Melhor direção: Nara Normande ("Guaxuma")
Melhor ator: Fábio Leal ("Reforma")
Melhor atriz: Maria Leite ("Mesmo com Tanta Agonia")
Melhor ator coadjuvante: Uirá dos Reis ("Plano Controle")
Melhor atriz coadjuvante: Noemia Oliveira ("Eu, Minha Mãe e Wallace" )
Melhor roteiro: "Reforma", Fábio Leal
Melhor fotografia: "Mesmo com Tanta Agonia", Anna Santos
Melhor direção de arte: "Guaxuma", Nara Normande
Melhor trilha sonora: "Guaxuma", Normand Roger
Melhor som: "Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados", Nicolau Domingues
Melhor montagem: "Plano Controle", Gabriel Martins e Luisa Lana
Menção honrosa de atriz coadjuvante: "Mesmo com Tanta Agonia", Rillary Rihanna Guedes
Júri Popular
Melhor curta-metragem: "Eu, Minha Mãe e Wallace"
Prêmio Especial do Júri: "Liberdade"
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