Descrição de chapéu

Tragédia musical de Lav Diaz se vale da estranheza em lamento sobre as Filipinas

'Estação do Diabo' 'estreia no Indie Festival como um filme diferente do diretor

Festival Indie

Cena do filme “Estação do Diabo”, do filipino Lav Diaz Divulgação

Lúcia Monteiro

Estação do Diabo (Ang Panahon ng Halimaw)

  • Quando 17/9, às 16h, e 19/9, às 20h30
  • Onde Indie Festival, no CineSesc, r. Augusta, 2.075, São Paulo
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Piolo Pascual, Shaina Magdayao, Pinky Amador
  • Direção Lav Diaz

Anunciado como uma ópera-rock, "Estação do Diabo" estreia no Indie Festival como um Lav Diaz diferente. Estão lá, é verdade, algumas características marcantes do cineasta filipino —mas elas se agenciam de maneira absolutamente nova em sua obra.

Do Lav Diaz já conhecido, o filme apresenta a imagem em preto e branco, os planos longos e a duração estendida (ainda que seus 234 minutos pareçam pouco em comparação com alguns de seus títulos anteriores, de até 12 horas). Há, ainda, o aprofundamento do esforço reiterado de dar visibilidade a passagens sombrias da história das Filipinas.

A principal novidade é a escolha da forma musical. Não espere, porém, uma inscrição de fato no gênero das comédias musicais. O filme se mantém a uma enorme distância de títulos como "La La Land" ou mesmo "Os Guarda-Chuvas do Amor" e talvez possa ser melhor definido como tragédia musical.

Em uma engenhosa passarela entre ficção e realidade, passado e presente, "Estação do Diabo" se ambienta em 1979, num remoto vilarejo no sul do arquipélago. O fictício presidente Narciso condensa no modo alegórico referências ao ditador Ferdinando Marcos (no poder entre 1965 e 1986) e ao atual presidente do país, Rodrigo Duterte.

 LAV DIAZ
Cena do filme 'Estação do Diabo', de Lav Diaz - Giovanni D. Onofrio/Divulgação

Os personagens se distribuem em dois conjuntos: há, de um lado, quem sofre com os sangrentos episódios sucedidos após a Lei Marcial, decretada por Marcos em 1977; de outro, a milícia fiel ao ditador. Numa reviravolta notável, Hazel Orencio, atriz presente, em geral como vítima, em quase todos os filmes de Diaz, aparece agora como algoz, em meio ao grupo dos soldados.

O silêncio, frequente na filmografia do realizador até aqui, vê-se substituído por cantos de lamento. Com letra e música compostas pelo próprio Lav Diaz, as canções são entoadas a capella pelo elenco. Não é sem estranheza que ouvimos um dos soltados cantar "matamos seu marido e seu filho. Lalalá...". Ou, de outro personagem, um "meu crânio explodirá na sua frente. Lalalalá".

Ainda mais chocante é a figura do líder, com dois rostos na cabeça. Dedicado às vítimas da Lei Marcial, o filme conecta os horrores da ditadura passada à situação atual, também sanguinolenta. E insinua que não haveria forma naturalista capaz de dar conta dos absurdos da história nacional.

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