Descrição de chapéu Livros

HQ de Danilo Beyruth leva ação ao bairro da Liberdade e a colônias japonesas

Autor de 'Samurai Shirô' é um dos brasileiros bem-sucedidos no mercado americano

página de quadrinhos em preto e branco com samurai

Detalhe da HQ 'Samurai Shirô', de Danilo Beyruth, que saiu pela Darkside Reprodução

Thales de Menezes
São Paulo

Um homem desperta no hospital, ferido e desmemoriado. Seu único pertence é uma espada. Em busca de respostas, ele foge. Com um especialista, descobre que tem nas mãos uma milenar arma de samurais, uma lendária espada Muramasa, forjada no Japão feudal.

Em sua fuga, encontra Akemi, jovem estudante que, sem saber a razão, é perseguida por mafiosos.
“Samurai Shirô” é o nome dessa história, que poderia ser um exemplar de cinema de ação americano. Será realmente um filme, a ser rodado a partir de março, mas bem longe de Hollywood.

A jornada do homem sem nome e Akemi começa no bairro da Liberdade, em São Paulo, e se desloca para cidades no interior paulista que concentram muitos imigrantes japoneses.

“Samurai Shirô” é um álbum de quadrinhos com 190 páginas em preto e e branco escritas e desenhadas por Danilo Beyruth, um dos brasileiros bem-sucedidos no mercado americano de HQ.
Listar os personagens que ele já ilustrou para a gigante Marvel impressiona. Entre outros, Guardiões da Galáxia, Cable, Motoqueiro Fantasma e Demolidor.

Quando recebeu a reportagem da Folha em seu apartamento, em São Paulo, estava desenhando uma página do Demolidor. Não há indícios aparentes de ligação com o Japão, nem na decoração nem nos traços fisionômicos do artista.

“Sem nenhum parentesco, sempre fui atraído pela cultura japonesa. Tem os mangás, claro, mas o cinema é uma influência forte”, conta Beyruth, que fala de sua paixão pelo cineasta Akira Kurosawa. Para ele, é o pai do cinema moderno de ação, com seus filmes de samurai que influenciaram faroestes nos Estados Unidos e na Itália.

Com “Samurai Shirô”, ele se diverte com o resultado. “Adorei desenhar uma cena de ação no metrô. E a Liberdade é fascinante. Quando você vê os bairros chineses em Nova York ou Londres, são apenas uma meia dúzia de quadras, como um pedaço de parque temático na Disney. Mas quando você pisa na Liberdade parece estar em outra cidade.”

Cenários inesperados estão na bagagem do trabalho autoral de Beyruth. Em sua HQ “Bando de Dois”, (2010), publicada também em Portugal, na Argentina e na França, transformou o cangaço num western.
Com muita atividade inicial em fanzines (“Aqueles fanzines de raiz, xerocão mesmo”, explica), ele começou os álbuns próprios com “Necronauta” (2009), um anti-herói que conduz as almas dos mortos ao além, que teve um segundo volume em 2012.

Ele desenvolve o lado autoral enquanto desenha para editoras americanas. “Chuto que só na DC a participação de brasileiros alcance uns 25%. O mercado lá tem uns 150 gibis regulares. Falo de gibi tradicional de herói, que sai todo mês pelas grandes, Marvel, DC, Dark Horse e alguma outra, sem incluir os independentes.”

Segundo ele, compensa financeiramente para os brasileiros. “Trabalhar para uma editora menor vale para quem está começando. Mas as grandes seguram bem as despesas de quem tem filho e mais boletos para pagar. E é em dólar, né?”

Mas a maior repercussão que Beyruth assumindo personagens de HQ já famosos foi mesmo no Brasil. Dentro da série de novelas gráficas de Mauricio de Sousa, a adaptação de Beyruth para o Astronauta foi a mais aclamada.

Ele se inspirou nos resgates que ídolos dele fizeram com personagens consagrados, citando Frank Miller, com o Demolidor, e Alan Moore, com o Monstro do Pântano.

“Fui buscar dentro do personagem quais eram os elementos psicológicos daquele Cebolinha dentro de um Kinder Ovo vagando no espaço”, brinca Beyruth.

O sucesso é grande. Desde 2012, ele já criou quatro volumes do Astronauta na série Graphic MSP, e, neste mês, a HBO anunciou a produção do primeiro desenho animado do personagem, baseado nos traços e ideias de Beyruth.

Samurai Shirô
Autor: Danilo Beyruth. Editora: Darkside. Quanto: R$ 59,90 (190 págs.)

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.