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Televisão

Precisou de Trump para Globo de Ouro reconhecer 'The Americans'

Já a melhor série cômica foi merecidamente 'O Método Kominsky', sensível conto sobre o envelhecer

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Elenco e equipe da série 'The Americans', vencedora do Globo de Ouro como melhor drama
Elenco e equipe da série 'The Americans', vencedora do Globo de Ouro como melhor drama - Mark Ralston/AFP
São Paulo

O Globo de Ouro não se furtou ao espírito dos tempos e reconheceu, ainda que tardiamente, “The Americans” como melhor série dramática do ano. A história pessoal de dois espiões russos infiltrados nos EUA dos anos 80, em plena Guerra Fria, chegou ao fim neste ano com sua sexta temporada, mas soa mais atual do que nunca nos EUA de Donald Trump.

A melhor série cômica foi merecidamente “O Método Kominsky”, um sensível conto sobre o envelhecer escrito por Chuck Lorre, surpreendentemente o rei do riso grosseiro (“Two and a Half Men”).

A produção da Netflix, à qual Lorre agradeceu repetidamente ao receber o troféu, recebeu também o prêmio de melhor ator cômico para o veteraníssimo Michael Douglas, que pela primeira vez faz um personagem que faz jus a seus 74 anos. Sina, talvez de tempos tristes, o prêmio de série cômica foi alçado a lugar de honra da noite, o último a ser anunciado na parte de televisão.

O tom político na premiação foi sutil, mas persistente. Além da láurea para uma série que trata de Guerra Fria —no momento em que Trump se vê às voltas com uma investigação por obstrução de Justiça no inquérito que apura a suspeita de conluio de sua campanha com agentes russos para interferir na eleição presidencial americana de 2016—, houve também o discurso da presidente da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, que entrega o prêmio.

A indiana Meher Tatna, cujo país vai às urnas neste ano em meio a uma onda nacionalista crescente, defendeu a liberdade de imprensa, nos EUA achincalhada pelo próprio Trump e, no mundo, por líderes como o brasileiro Jair Bolsonaro.

Sandra Oh, apresentadora e laureada como melhor atriz dramática em série por seu trabalho na original “Killing Eve” (Globo Play) também ensaiou piadas sobre a subrepresentatividade dos atores asiáticos no cinema/TV americanos, mas ficou nisso (no geral sua performance no palco, e a de seu coapresentador, Andy Samberg, foi graciosa porém pálida). E a equipe de "O Assassinato de Gianni Versace” falou da contemporainedade da homofobia e da necessidade de resistir.

Outro drama de cores políticas, “Bodyguard” (Netflix), ficou com o prêmio de melhor ator dramático em serie para Richard Madden, o insosso Robb Stark de “Game of Thrones”. Qualquer um dos outros quatro —Stephan James, muito bem em “Homecoming” (Amazon Video), sobretudo— parecia merecer mais. 

A série do brilhante Sam Esmail para a Amazon saiu sem nada.

Ben Whishaw, melhor ator coadjuvante em minissérie/telefilme por “A Very English Scandal” (Amazon Video, ainda inédito no Brasil), também surpreendeu ao conquistar o prêmio que parecia nas mãos de Alan Arkin, coprotagonista com Michael Doulgas em “O Método Kaminsky”, no qual encarna um viúvo judeu rabugento aprendendo a ficar sozinho. 

Afeita a pulverizar prêmios, a associação não fez diferente neste ano. Se Amy Adams foi mais uma vez (injustamente) ignorada por seu desempenho em “Objetos Cortantes” (HBO), ao ver o prêmio de melhor atriz em minissérie ou telefilme ir para as mãos de Patricia Arquette (“Escape at Dannemora”), Patricia Clarkson, que encarna sua mãe na mesma minissérie, levou melhor coadjuvante. 

Na versão masculina, o prêmio principal ficou com Darren Criss, por “O Assassinato de Gianne Versace”. A dramatização da história real de homofobia ainda terminou a noite com o esperado troféu de melhor minissérie ou telefilme. 

A dose necessária de escapismo veio no prêmio de melhor atriz em série cômica para Rachel Brosnahan, de “A Maravilhosa Sra. Maisel” (Amazon). 

A história de uma mulher recém-divorciada nos anos 60, que inesperadamente passa a fazer sucesso como comediante stand-up, revelou o talento cômico de Brosnahan, antes apenas conhecida pelo papel da malfadada prostituta Rachel em “House of Cards”. 

Em um registro que remete à obra de Frank Capra (de “A Felicidade Não se Compra”, clássico obrigatório de 1946), a série, cuja terceira temporada deve chegar ainda neste ano, usa tons agridoces para falar de sonhos, feminismo, emancipação e possibilidades da vida —algo que parece inibido pelo noticiário atual. 

Erramos: o texto foi alterado

Sandra Oh foi premiada como atriz dramática, e não cômica.

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