Lançado em 2011 na Europa, "Intocáveis" se tornou o filme francês mais visto no exterior, superando 23 milhões de espectadores. Além disso, passou de 20 milhões no seu país de origem.
No Brasil, onde entrou em cartaz em 2012, a comédia dramática sobre a relação de amizade de um tetraplégico milionário e seu auxiliar de enfermagem também emplacou, com mais de 1 milhão de ingressos vendidos.
Apenas sete anos depois, os cinemas brasileiros recebem o remake de "Intocáveis", uma produção dos EUA que ganhou aqui o título de "Amigos para Sempre".
Se considerarmos a carreira bem-sucedida da produção original, o intervalo entre o lançamento do filme francês e a estreia do americano parece curto demais. Os admiradores de "Intocáveis" vão se animar a pagar ingresso para assistir à nova versão?
Estratégias de lançamento à parte, o fato é que há uma quebra de padrão. Em geral, os remakes ficam aquém do filme original —aqui, acontece o contrário.
Longe de ser primoroso, "Amigos para Sempre" vai além de "Intocáveis" graças, principalmente, à presença de Kevin Hart ("Jumanji: Bem-Vindo à Selva") no papel do sujeito inexperiente incumbido de cuidar do tetraplégico.
Em um filme que dedica tamanha atenção aos seus dois protagonistas, a capacidade dos atores é determinante para o resultado final.
A interpretação de Omar Sy na produção original atingia um limite, estabelecido, curiosamente, pelo seu carisma. Vista em geral como trunfo, essa característica contribuía para o encolhimento do personagem, à vontade no humor, mas pouco convincente nas passagens dramáticas.
Diante de um mundo novo, o cotidiano luxuoso do seu novo patrão, Philip (Bryan Cranston), o personagem de Kevin Hart mostra perplexidade de um modo agressivo, causando um estranhamento incômodo.
O ator americano tem mais recursos para construir o drama, sem prejuízo para a veia cômica do filme.
Dirigido por Neil Burger, "Amigos para Sempre" não adota um tom de denúncia em torno das diferenças sociais, mas entretém sem perder de vista um certo mal-estar, um toque amargo que mal se via em "Intocáveis".
Desta vez, quem diria, os EUA ensinam à França que uma colher a menos de açúcar pode deixar o doce bem mais interessante.
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