Descrição de chapéu
Moda

Miuccia Prada e Donatella Versace desfilam diferentes olhares sobre o feminino

Criadoras mostram em Milão temas como opressão e liberdade de formas opostas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Kendall Jenner à frente das modelos de Versace que desfilaram nesta sexta (22) na semana de moda de Milão Miguel Medina/AFP

Milão

Desde que modelos e estrelas de Hollywood tomaram coragem para denunciar abusadores da indústria cultural, a moda questiona com quantos dedos a menos ou a mais as roupas serão cortadas.

Versões do que se entende por sexy tomaram a passarela nas últimas temporadas para desafiar os limites dos contornos, decotes e linhas das coleções.

Mas poucos conseguiram explorar melhor esses conceitos do permitido e proibido quanto Miuccia Prada e Donatella Versace, duas tesouras opostas que estudam o mesmo tema: a opressão e a liberdade feminina.


​Enquanto a primeira se apoia em signos ligados à feminilidade, como rosas, cores doces, laços e renda, para desconstruir a doçura sexista que ainda teima em aparecer nas passarelas, a outra arranca tecidos e drapeia suas roupas para afrontar a malícia de quem julga suas coleções.

O palco das duas é a semana de moda de Milão, onde exercitam a costura em desfiles midiáticos disputados por arquétipos fashionistas diferentes —os da ala “cool”, que entendem (ou dizem entender) os conceitos de beleza e estranhamento da Prada e os que curtem a extravagância pop de Versace.

Nesta temporada de inverno 2020, foi um conto de fadas tenebroso —mais próximo dos de Baudelaire do que dos da Disney— o ponto de partida de Miuccia Prada para esmiuçar o que chamou de “anatomia do romance”.

Ainda que conservem os comprimentos e as silhuetas das mocinhas, os vestidos pretos rendados tingidos de flores, ora mortas, ora vivas, não eram nem um pouco românticos. O visual sombrio foi potencializado pelo teor militarista explorado na passarela masculina da marca, com alfaiataria rígida, tons escuros e detalhes utilitários.

As modelos andavam por um espaço preenchido por espuma macia, mas daquelas de estúdio fonográfico, com relevos pontudos como espinhos, produzindo a metáfora dos percalços de um romance com começo, meio e fim.

Ao fundo, músicas cujas letras falam de relacionamentos abusivos, como “Bad Romance”, de Lady Gaga, e uma versão de Marilyn Manson para o clássico “I Put a Spell on You”; e nos pés, coturnos pesados, um tanto punk, para percorrer o caminho difícil do amor.

As roupas de Prada evocam uma aparente fragilidade, mas são grossas, carcaças de cashmere, lã e seda desenhadas como abrigos para dias difíceis.

A aparência das garotas lembrava a da personagem Vandinha, da “Família Addams”, com suas duas tranças infantis caídas sob os ombros e um olhar adulto ameaçador.

Donatella, por sua vez, trata dessas ferramentas de proteção exibindo ainda mais a pele que é objeto de desejo masculino. Sua coleção, desfilada na noite de sexta-feira (22), exalta todos os elementos que tornaram a Versace um ícone das mulheres barrocas desinibidas.

Os arabescos dourados que eram assinatura do irmão, Gianni, adornam vestidos de lenço cobertos por capas grossas coloridas bem ao estilo anos 1980. Meia arrastão, cores neon e muito brilho ofuscam o olhar de quem se atreve a chegar perto.

Autoconfiança sempre foi uma palavra importante para Donatella e, nesta coleção, ela reafirma sua capacidade de enfrentar o desafio do escrutínio da audiência assim como fez após a morte do patriarca da grife.

É que havia uma expectativa sobre esta coleção desfilada na praça onde fica a bolsa de valores de Milão, porque foi a primeira após a venda bilionária da marca para o grupo Michael Kors Holding, agora chamado Capri Holdings. A dúvida, que soa bem machista, diga-se, era se ela conseguiria manter o nível da Versace com a nova pressão dos investidores.

Conseguiu. Os decotes e as fendas voluptuosas do bloco final de longos, mídis e alfaiataria preta é todo finalizado com os alfinetes e os broches dourados com a Medusa da marca gravada. Gigi Hadid, Kendall Jenner, Kaia Gerber e todas as tops mais quentes do momento vestiram esses looks finais para legitimar o legado da estilista.

Assim como Prada, ela também contou, ainda que de forma menos óbvia, a história de um romance conturbado, o do roqueiro Kurt Cobain e sua mulher Courtney Love. Músicas do Nirvana e do grupo Hole, respectivamente, abriram e fecharam o desfile, que explorava um verniz grunge em maquiagem, xadrez e vestidos assimétricos coloridos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.