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Cinema

Ator desfigurado pela hanseníase dá força a road movie pelo Egito

'Yomeddine' concorreu a prêmio em Cannes e acompanha personagens incomuns pelo país africano

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Yomeddine - Em Busca de um Lar

  • Classificação 10 anos
  • Elenco Rady Gamal, Ahmed Abdelhafiz, Shahira Fahmy
  • Produção Egito, EUA, Áustria, 2018
  • Direção A.B. Shawky

Filmes nascem da vontade de contar histórias, mas também podem brotar de uma imagem significativa, do mistério de uma face ou do estranhamento provocado por um corpo.

O primeiro longa de ficção do egípcio A.B. Shaky é todo construído a partir da figura de Rady Gamal, homem que teve hanseníase na infância e ficou com o físico desfigurado pela doença.

O cineasta conheceu Gamal quando realizou seu primeiro curta, um documentário sobre o destino de internos de um leprosário no interior do Egito. 

"Yomeddine - Em Busca de um Lar" o transforma em protagonista de uma história incomum, forte o bastante para distinguir o filme na selva de trabalhos de estreantes. 

Não por acaso, ganhou uma visibilidade sonhada pela maioria de diretores jovens e veteranos ao participar da competição oficial de Cannes no ano passado.

Gamal interpreta Beshay, personagem desenvolvido a partir de suas experiências pessoais. Ele viveu desde criança afastado do convívio familiar, foi excluído da sociedade, apagado por causa da aversão que as pessoas sentiam por seu corpo deformado e pelo medo da doença, apesar de estar curado.

"Corra de um leproso como corre de um leão" é um dito popular que ele escuta mais de uma vez quando parte em busca de suas origens e roda pelo interior do país na companhia de Obama, um órfão núbio, meio filho, meio irmão na marginalidade.

O molde narrativo combina o road movie e o "buddy movie". O filme de estrada capta realidades distintas, anexa a variedade humana ao mesmo tempo que faz progredir o senso de aventura. O filme de dupla junta temperamentos para intensificar conflitos ou extrair comicidade.

O longa egípcio também incorpora soluções do "feel good movie" para amenizar o teor de miséria e abandono que cerca as desventuras dos protagonistas. A mistura desses elementos permite ao diretor não ceder à facilidade de explorar a miséria para fazer chantagem emocional.

Embora a pobreza e diversas formas de exclusão se mantenham como ponto principal, a ênfase maior é noutros aspectos da marginalidade, na compaixão e na humanidade como algo que resiste às piores perdas.

Ao contrário do que se espera de um longa-metragem selecionado para o Festival de Cannes, "Yomeddine" não é dessas obras que se impõem por ter um viés autoral, mas por reivindicar a vertente egípcia de cinema popular, marcada por tipos incomuns e histórias exemplares.

A singularidade de Gamal, seu ator-personagem, é que faz sua força.

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