Descrição de chapéu

Salvador Dalí fazia banquetes surrealistas com peixe no sapato e rãs vivas

Livro sobre esses eventos do artista catalão traz pratos antiquados e nada inovadores

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Imagem de “Les Dîners de Gala”, de Salvador Dalí, lançado pela Taschen

Imagem de “Les Dîners de Gala”, de Salvador Dalí, lançado pela Taschen Divulgação

Em 1941, o pintor espanhol Salvador Dalí realizou nos Estados Unidos um comentado jantar surrealista para arrecadar fundos para artistas espanhóis: uma das poucas oportunidades em que o público em geral —não apenas seus amigos— teve acesso a um dos famosos banquetes como os que o artista promovia em sua casa na Catalunha. 

Foi antes de tudo uma performance gaiata: mulheres vestidas de cavalo, peixe servido em sapatos, um prato de rãs em que o ingrediente estava vivo —e saía pulando mesa afora.

Para quem não desfrutou a intimidade de Dalí, a chance de conhecer algo desses momentos de delírio surgiu quando ele lançou, em 1973, o luxuoso livro “Les Dîners de Gala” (Os jantares de Gala), trocadilho e referência à sua mulher, Gala Diakonova. 

Nunca mais reeditada, item caríssimo em sebos desde então, a obra-livro ressurgiu numa belíssima edição em fac-símile da editora alemã Taschen.

Um livro editorialmente confuso. A breve introdução tem apenas uma assinatura manuscrita, que parece ser de Pierre Roumeguere, citado em outros livros como seu psicanalista. 

As receitas são apócrifas, pois diz o livro que seu autor, um chef de cozinha, preferiu o anonimato. Fotos interessantes não têm autoria declarada. E várias das receitas são vagas o suficiente para serem mais descrições do que receitas propriamente.

Mas tudo isso só reforça o foco no principal: as ilustrações. Pois se trata de um livro mais para ser visto do que lido. É verdade, são apresentadas 136 receitas. Mas ao contrário de todo o verniz inovador e provocativo com que Dalí procurava lustrar suas obras, os pratos são antiquados, no máximo clássicos, de uma velha cozinha francesa intrincada e ostentatória, num viés conservador que contrastava com aqueles anos 1970 em que despontava na França o vento renovador da “nouvelle cuisine”.

Como documento, valem os 21 pratos assinados por quatro restaurantes parisienses que, na época, gozavam do maior prestígio pela cozinha clássica servida em seus ambientes suntuosos —La Tour d’Argent, Lasserre, Maxim’s e Le Buffet de la Gare de Lyon.

E valem também alguns pensamentos e comentários, como as divertidas idiossincrasias do autor, que por exemplo detestava espinafre porque rejeitava tudo o que não tinha “forma clara e definida” (amando, portanto, os crustáceos com suas rígidas armaduras).

A classificação dos pratos nos 12 capítulos é também curiosa: eles têm títulos como “Os Canibalismos de Outono” (ovos e pescados), “O Atavismo Desoxirribonucleico” (vegetais), “Os ‘Eu como Gala’” (afrodisíacos).

Mas o prato principal são os 12 painéis especialmente pintados a óleo por Dalí para o livro, além de 55 ilustrações coloridas para receitas, fotos de pratos e louças, e vários desenhos que se inserem no 
universo onírico, sexual, canibal e delirante que marcaram a produção do artista —especialmente, aliás, justamente a partir do momento em que ele conheceu Gala (com quem casou em 1934).

A Taschen relançou também, e também em perfeito e belo fac-simile, o volume que o artista lançou poucos anos depois, em 1977, “The Wines of Gala” (Os vinhos de Gala, com edições em inglês e espanhol, 296 páginas). 

Neste, a primeira parte apresenta dez vinhos divinos —grandes regiões ou rótulos consagrados, apresentados por Max Gérard; e a segunda, a curiosa classificação dos vinhos feita por Dalí segundo 
as sensações que provocam em seu íntimo —como “vinhos do impossível” e “vinhos de luz”. Também aqui, saltam aos olhos as 140 ilustrações preparadas pelo artista.

Les Dîners de Gala

  • Preço R$ 379,90 (320 págs.)
  • Autor Salvador Dalí
  • Editora Taschen
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