Aluna da Bauhaus, primeira mulher de Marcel Breuer viveu no Brasil

Marta Erps Breuer trabalhou por 35 anos em pesquisas de biologia na USP

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Erich Consemüller tirou, por volta de 1927, a foto em que Marcel Breuer aparece com Marta Erps Breuer, ao seu lado, Katt Both e Ruth Hollós-Consemüller, como eles, alunas da Bauhaus
Erich Consemüller tirou, por volta de 1927, a foto em que Marcel Breuer aparece com Marta Erps Breuer, ao seu lado, Katt Both e Ruth Hollós-Consemüller, como eles, alunas da Bauhaus - Erich Consemüller
São Paulo

Entre as centenas de alunos que a breve história da Bauhaus espalhou pelo mundo, uma desenvolveu no Brasil uma incomum carreira.

Marta Erps Breuer tinha 23 anos quando chegou ao país. Desembarcou no porto de Santos, no litoral paulista, vinda de Roma, em 1925, para visitar o irmão, Ludwig, na fazenda onde trabalhava.

Ela ainda voltaria para a Alemanha —e para seu colega Marcel Breuer, um dos nomes mais proeminentes do design e da arquitetura forjados na Bauhaus, com quem se casaria na Hungria natal do noivo.

Mas, por motivos que se perderam —sem herdeiros, pouco de seus papéis sobreviveu de maneira ordenada—, Marta acabou retornando ao Brasil pouco depois, sozinha.

Quem via a mocinha, nascida em Frankfurt em 1902, lidar com a enxada e a foice na fazenda —onde, segundo texto publicado à época de sua morte, em 1977, chegou a trabalhar— talvez nem imaginasse que antes ela tivesse manejado os teares do ateliê de tecelagem da Bauhaus.

Quem a viu realizar minuciosos desenhos em pesquisas científicas, porém, sabia de onde vinha seu talento. 

Ela se tornou desenhista trabalhando em São Paulo com o oftalmologista Archimede Busacca e, depois, na Escola Paulista de Medicina, com André Dreyfus, um dos organizadores da USP, em 1934, e fundador do departamento de biologia da universidade.

Ali, Marta trabalharia até se aposentar, em 1969. Seu trabalho, preciso, não era acessório às pesquisas. Era tão importante a compreensão dada pelo seu detalhamento gráfico que ela assinou vários estudos como coautora.

Enquanto ela se naturalizou brasileira em 1940, seu ex-marido se tornou americano. 

Divorciados, continuaram amigos, e Marta circulava pela região de Santo Amaro, onde vivia, num Fusca que lhe foi presenteado por Breuer quando ele veio participar da Bienal de Arquitetura de 1953.

Seu passado na escola de Weimar não era desconhecido de seus colegas; no departamento de biologia, deixou móveis que fabricou —tinha na marcenaria sua paixão, e contam que também sua 
casa ela projetou e mobiliou.

Colagens eram outra forma de expressão adotada por Marta. Entalhes ela fazia por prazer e para o trabalho científico —como um de fêmea de mosca drosófila, objeto dos importantes estudos de citogenética que desenvolveu ao lado de Crodowaldo Pavan.

Ao que parece, seus colegas da Escola de Comunicações e Artes nunca souberam que perto deles, por 35 anos, houve uma egressa da Bauhaus.

Em artigo apresentado no Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas em 2017, Ana Mae Barbosa e Claudia Alquezar Facca apontam esse fato como indicativo de que “as mulheres da Bauhaus não alcançaram a mesma fama em seu tempo que os homens e, se o fizeram, a história as apagou”.

Segundo o discurso das pesquisadoras no congresso, as mulheres, que ingressaram em maior número na primeira turma de Weimar, viram sua participação diminuir ao longo dos anos, com a preponderância da arquitetura sobre o trabalho em ateliês como o de tecelagem. 

Acreditavam, escrevem elas, que a percepção tridimensional desenvolvida era um atributo masculino.

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