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Balé Nacional da China estreia 'Lanternas Vermelhas' com jeito de cinema

Espetáculo transforma em dança a história do filme homônimo e traz o mesmo diretor, Zhang Yimou

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"Lanternas Vermelhas", do Balé Nacional da China Adri Felden/Divulgação

Washington

Uma história passada na China pré-comunista, sobre senhores da guerra e suas concubinas, fez do cineasta Zhang Yimou o grande expoente da chamada Quinta Geração, movimento seminal do cinema contemporâneo chinês.

Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Lanternas Vermelhas” transformou Zhang em celebridade e estrela de grandes produções, incluindo óperas, shows, filmes de publicidade e um espetáculo para o Balé Nacional da China baseado no longa.

Cinematográfico é adjetivo clichê, mas, no caso do espetáculo de dança, o lugar-comum torna-se acima da média. Os bailarinos são virtuosos, em solos, duos ou grupos sincronizados, mas o show é dos planos e cortes, das sequências de cenas e da luz. Além da direção e do libreto, Zhang também assina a iluminação da produção.

Ele cria enquadramentos de cinema para a coreografia de Wang Xinpeng, recortando a caixa preta do teatro com painéis e biombos. Joga com as cores, alternando cenas vermelhas e azuis, reverberando o estado de espírito dos protagonistas. 

Nas cenas mais teatrais, destaca os dourados das pinturas chinesas. Há algo perto do excesso, perdoado pela elegância dos efeitos obtidos nas partes mais dramáticas da obra.

No filme, Zhang usou luz, silêncios e closes na atriz Li Gong para contar o drama de uma jovem  obrigada a se tornar a terceira concubina de um senhor da guerra.

Intrigas da corte e das outras duas mulheres preteridas pela mais jovem, um relacionamento extraconjugal e o desobedecimento às regras sociais levam ao final trágico da protagonista, de seu amante e da segunda concubina, que denunciou o casal.

No espetáculo de dança, o diretor coloca uma tela branca no palco para mostrar com sombras o estupro da jovem por seu senhor, os corpos dos dois intérpretes se agigantando ou encolhendo em preto e branco atrás do tecido.

Também uma tela conta o castigo final da jovem, de seu amante e da segunda concubina. Enquanto os três condenados vagam pelo palco, soldados bailarinos chicoteiam a tela com grandes bastões molhados em tinta vermelha, fazendo o sangue escorrer no quadro branco a cada pancada.

No filme, relações de poder e submissão são tratadas de forma um tanto sombria, mas estetizada pelo jogo brilhante de luz e cores sólidas que se tornaram uma das marcas do diretor. São também marcas no espetáculo de dança, que o Balé Nacional da China traz para uma nova temporada no Brasil, nove anos após se apresentar no país pela última vez.

A turnê inclui apresentações no Rio, em Curitiba, em Belo Horizonte e em São Paulo. Na capital paulista, a companhia apresenta, além de “Lanternas Vermelhas”, o clássico “O Lago dos Cisnes”.

Criado nos moldes da escola russa e de suas grandes companhias Bolshoi e Kirov, o Balé Nacional da China serviu durante a Revolução Cultural como mais um instrumento de propaganda. Era controlado por Madame Mao, a atriz Jiang Qing, quarta esposa de Mao Tse-tung. Neste período, as apresentações se restringiam a duas coreografias, aprovadas pelo regime.

Com as mudanças de poder, a partir de 1976, a companhia começou a ampliar seu repertório, com clássicos ocidentais, novas obras modernas e balés chineses.
Aí entra Zhang. Apesar de no início da carreira o cineasta não ter sido muito bem visto pelo regime, acabou acolhido pela cultura oficial, e muitas de suas criações contribuíram para a internacionalização da arte nacional.

“Lanternas Vermelhas”, com suas luzes, sombras e a mistura de danças tradicionais, elementos da ópera chinesa, artes marciais, balé clássico e moderno, faz parte desse repertório como um troféu da abertura chinesa para o Ocidente.

No que diz respeito à dança, “Lanternas Vermelhas” vai bem. O mesmo, contudo, não pode ser afirmado sobre as relações de Zhang com as autoridades chinesas  Em fevereiro, o novo longa do cineasta, “One Second”, foi retirado da competição do Festival de Berlim, no qual faria sua estreia mundial.

Na época, a organização da mostra informou que o filme apresentou “problemas técnicos”, mas há especulações sobre outras motivações para a retirada. Com tom político, a obra se passa durante a Revolução Cultural, período considerado tabu na história do partido comunista chinês.

A jornalista viajou a convite da Dell’Arte Soluções Culturais

 


Balé Nacional da China
No Rio, de qui. (23) a dom. (26), no Theatro Municipal, ingr.: R$ 50 a R$ 380. Em São Paulo, 29/5 a 2/6, no Credicard Hall, ingr.: R$ 50 a R$ 350. Em Curitiba, 5 e 6/6, no Teatro Guaíra, ingr.: R$ 50 a R$ 220. Em Belo Horizonte, 8 e 9/6, no Palácio das Artes, ingr.: R$ 60 a R$ 160

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