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Chão Editora estreia no mercado em diálogo com o passado

Casa publicará livros sobre história, feitos a partir de documentos, memórias e crônicas

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São Paulo

A ideia é abrir uma conversa com o passado. Fazer o resgate de histórias antigas que já foram esquecidas. Deixar velhos papéis falarem.

É esse o conceito que guia o catálogo de uma nova editora que chega agora ao mercado, a Chão, capitaneada pela escritora Beatriz Bracher e a editora Marta Garcia, ex-Companhia das Letras. Serão livros que tratam de história, feitos a partir de documentos antigos, memórias, crônicas de viagem e obras de ficção desconhecidas que retratem o espírito de uma época.

A Chão já estreia com um autor na Flip, o historiador José Murilo de Carvalho, que lança “Jovita Alves Feitosa: Voluntária da Pátria, Voluntária da Morte”, sobre uma mulher que se vestiu de homem e tentou se alistar para combater na Guerra do Paraguai.

Marta Garcia e Beatriz Bracher, fundadoras da Editora Chão
A editora Marta Garcia (à esq.) e a escritora Beatriz Bracher, que idealizaram a Chão junto a Fernão Bracher, morto em fevereiro - Renato Parada/Divulgação

A iniciativa também foi idealizada por Fernão Bracher, ex-presidente do Banco Central e fundador do banco BBA, que se fundiu ao Itaú em 2003. Ele morreu em fevereiro, mas, além de Beatriz, seus outros filhos —Carlos, Elisa, Eduardo e Candido— levarão o projeto adiante.

A Chão marca também a volta de Beatriz, uma das mais celebradas ficcionistas contemporâneas do país, ao mercado editorial. Ela foi uma das fundadoras da 34, da qual saiu em 2000 —a editora fundada por ela em 1992 cuidará das vendas e da distribuição dos títulos de sua nova casa.

“Eu estava pesquisando sobre a Guerra do Paraguai para um livro que tentei fazer e não fui capaz. Ler memórias de combatentes era muito interessante, ouvir aquela individualidade. Atiça a sua percepção do mundo”, diz ela.

Por isso, a principal ideia da dupla é deixar os documentos falarem por si —a mediação entra nos posfácios de pesquisadores e, claro, no recorte. O segundo livro, por exemplo, será um raro documento escrito por um membro de uma congregação católica de ex-escravos e descoberto pela historiadora Mariza de Carvalho Soares.

No manuscrito, o ex-escravo relata as brigas dentro da congregação, a morte de um rei e a coroação de outro. Também conta a história de sua ancestralidade africana.

“É um português de alguém do século 18, que não dominava a língua tão bem, mas que era extremamente letrado”, diz Marta Garcia, acrescentando que o terceiro lançamento será um romance abolicionista.

A escolha desse segundo título mostra outra diretriz que as duas pretendem adotar —a busca pela pluralidade de vozes. Há, é claro, um desafio nesse desejo, porque no passado o mais comum era que apenas as elites produzissem registros sobre a própria vida. O recorte temporal do catálogo, ao menos até agora, começa no século 18 e vai até os anos 1950.

No garimpo em busca do que publicar —a Chão deve lançar até quatro livros por ano, mas já tem ideias para muito mais do que isso—, a intenção é apelar também a coleções privadas e raridades de família, como diários.

“Sabemos que não é uma editora de best-sellers, mas a recuperação da memória é fundamental. E queremos trazer para a cena o que costuma ficar na nota de rodapé”, afirma Garcia.

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