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Carioca Travessa abre sua 1ª livraria de rua em São Paulo, com loja em Pinheiros

Unidade será pequena e com curadoria atenta, diz dono da rede, que projeta crescimento neste ano

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São Paulo

​Quando se conta a história da poesia marginal, o mais comum é lembrar seus autores, figuras como Chacal, Francisco Alvim, Ana Cristina César, Waly Salomão, e a antologia “26 Poetas Hoje”, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda.

Mas uma parte da história da chamada geração mimeógrafo se passou no subsolo de uma galeria em Ipanema. Ali, ficava um personagem que nem sempre é lembrado fora do Rio de Janeiro —Rui Campos, no começo livreiro e depois um dos donos da Muro, que chegara de Belo Horizonte e se tornara amigo de praia daquela turma.

Subterrânea e subversiva, a Muro se tornou um ponto de encontro de agitação cultural e militância política na cidade. Enquanto a ditadura militar corria solta do lado de fora, lá embaixo se reuniam os escritores e o pessoal da esquerda, com feiras de edições mimeografadas e saraus.

“Uma livraria num subsolo era aparentemente inviável do ponto de vista comercial. Mas era exatamente esse o espírito. Conseguimos interpretar o momento da época. Era fundamental ser subversivo”, diz Campos. “E a barra era pesadíssima. A gente já batalhava importação e havia uma série de livros que eram apreendidos. Era prejuízo.”

A Muro é a gênese da hoje Livraria da Travessa, da qual Campos é dono. A rede carioca inaugura, nesta sexta-feira (9), sua primeira loja de rua em São Paulo —antes disso, já tinha aberto uma menor dentro do Instituto Moreira Salles e outra em Ribeirão Preto. Campos acaba de abrir uma filial também em Lisboa, no bairro do Príncipe Real.

Neste sábado (10), às 18h, a nova loja recebe sua primeira sessão de autógrafos, com o escritor cubano Leonardo Padura, que divulga no país “A Transparência do Tempo” (Boitempo). No dia 18/8, será a festa de inauguração, que começa às 14h e vai até 22h.

Esta é a décima livraria que a Travessa abre em 30 anos, numa expansão lenta e gradual. O crescimento dela e de outras cadeias num momento em que as duas maiores redes do país estão em recuperação judicial mostra que, claro, a crise econômica afetou a todos nesse mercado. Mas há também um lado da crise que está restrito à Cultura e à Saraiva e que é resultado de decisões comerciais que as duas empresas tomaram e deram errado.

“A gente fica observando o que houve com as grandes redes e fica tentando entender. Mas me parece uma coisa específica da empresa. Um modelo que eles optaram e não foi bom. É também claro que tem a ver com o momento do Brasil”, afirma Campos.

Nesse período de crise, Campos diz que a Travessa não cresceu em 2018, mas também não encolheu. O Natal do ano passado, contudo, teve uma alta de crescimento de 40% das vendas. Para este ano, o livreiro projeta um crescimento de 15%. Precisou fechar a loja da avenida Rio Branco, no Rio, depois de o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico encerrar uma parceria que tinha com a empresa.

Em São Paulo, a loja de rua será num espaço de 200 metros quadrados. “Ficamos algum tempo procurando um lugar nos moldes do que temos no Rio, lojas com em torno de mil metros quadrados, mas percebemos que a linguagem de Pinheiros é outra, com lojas pequenas”, diz Campos. “Estamos sorrindo de olheira a olheira.”

No espaço diminuto, ele promete uma loja com “curadoria de uma literatura bem escolhida, sofisticada, e livros das questões atuais”, além de investir em livreiros com conhecimento do riscado.

“A obrigação de qualquer livraria é interpretar o público dela, lapidar a joia conforme cada lugar onde vai atuar.”

Com o pé agora do outro lado do Atlântico, a Travessa quer investir numa ponte —levar o livro brasileiro para Portugal, o que já está fazendo, mas também trazer as edições lusitanas para cá.

Livraria da Travessa
Abertura nesta sex. (9), às 10h, na r. dos Pinheiros , 513. Horários de funcionamento: de seg. a sáb., das 10h às 22h; dom., das 10h às 21h

Erramos: o texto foi alterado

A data do mês da festa de inauguração da Livraria Travessa foi publicada erroneamente como 18/7. A data correta é 18/8.

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