Descrição de chapéu Artes Cênicas

Em solo, Denise Fraga dá tom político às melancolias das pessoas comuns

Em cartaz com o monólogo 'Eu de Você', atriz diz que se revolta com a 'ignorância' do cerco à cultura

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São Paulo

​​Denise Fraga, 54 anos, 34 de teatro, estreia nesta quinta (19) o seu primeiro monólogo, em que adapta textos que coletou nos últimos anos de pessoas comuns, de suas melancolias.

O resultado, para a atriz que vem de uma sequência de montagens do engajado autor alemão Bertolt Brecht, é “muito político”. No Brasil e no mundo hoje, “a gente não tem como não ser”.

Descreve “os nossos olhos arregalados com as atitudes absurdas e as barbaridades ditas pelo chefe da nação”. Seria alguém para não ser levado a sério, “mas ele ocupa um cargo importante, não dá para a gente ficar só chocado”.

Para por um instante e acrescenta: “São declarações que têm ódio nelas”. Ao longo de 45 minutos de conversa, não mencionou nem uma vez sequer o nome, Jair Bolsonaro.

Revolta-se com a “ignorância” do cerco à cultura, um dos alvos preferenciais, em sua visão, junto com a educação e a ciência. “É um governo que trata a arte como inimiga.”

“Eu de Você” foge, porém, da opinião exaltada, que ocupa redes sociais. Tenta abordar a política “pelo vão das pedras”.

A atriz acrescentou depois, em mensagem de WhatsApp: “Acho que hoje o ato mais político talvez seja tentar encontrar o outro em meio a esses tempos turvos. Voltar a conversar em exercício, a ouvir. Enfrentar a violência com serenidade”.

Durante a entrevista, ela cita de maneira intermitente um de seus colaboradores-autores, Wagner, e sua mãe com Alzheimer.

Reproduz uma frase dele: “As tempestades continuam, com elas eu me acostumo. Mas não posso me acostumar com o tempo nublado o tempo todo. Há que buscar claridade”. O tempo nublado sem fim seria aquele em que estão o país e o mundo.

O espetáculo é solo, mas Denise, que vem de montagens com elencos grandes, tratou de se fazer acompanhar por uma banda, encabeçada pela diretora musical Fernanda Maia. Também começa e encerra a apresentação no meio do público, quebra a chamada quarta parede. Não quer estar sozinha.

Com alguma relutância, dado o abuso da expressão hoje em dia, fala em empatia, compreensão e identificação com o outro, para descrever “Eu de Você”.

A dois dias da estreia, relatou com aparente insegurança que pela primeira vez não tem um texto acabado, no papel, mas folhas soltas, que foram se juntando.

A base são cerca de 300 histórias “de vulnerabilidade, de pessoas pedindo voz”, que foram sendo colhidas e editadas por ela, pelo diretor Luiz Villaça e outros artistas envolvidos nas diversas frentes do projeto, como o dramaturgo e diretor Rafael Gomes.

“As pessoas escreviam as suas melancolias e entregavam para nós”, afirma. “A gente vive hoje uma espécie de epidemia melancólica.”

Diz que busca, nesta sua primeira experiência solo, uma aproximação com o outro, “estar sozinho junto”. Para tanto, nas folhas e no palco, o esforço é “trançar a vida cotidiana e elevá-la ao patamar da poesia”, subir ao “degrauzinho do sublime”.

Denise, que paralelamente se prepara para estrear dois filmes e uma série na Netflix, foi convidada e reabre com o espetáculo o Teatro Vivo, que passou os últimos nove meses em reforma.

Eu de Você

  • Quando Sex., às 20h. Qui. e sáb., às 21h. Dom., às 19h. Até 15/12.
  • Onde Teatro Vivo - av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, Morumbi
  • Preço R$ 50
  • Elenco Denise Fraga
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