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Rapper Travis Scott aparece como artista e curador no documentário 'Voando Alto'

Lançado pela Netflix, filme mostra o processo coletivo de criação de 'Astroworld', terceiro álbum do artista texano

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Amanda Cavalcanti
São Paulo

No dia anterior ao lançamento de “Astroworld”, álbum que rendeu ao rapper texano Travis Scott o primeiro lugar na Billboard e três indicações ao Grammy, ele e o produtor Mike Dean ainda estavam esperando uma última contribuição. 

O verso de Drake em “Sicko Mode”, canção que também alcançou o topo da parada da Billboard e causou certa polêmica por suas linhas nada simpáticas direcionadas a Kanye West, foi enviado pelo rapper canadense horas antes de o disco sair oficialmente.

Esse processo é mostrado no documentário “Travis Scott: Voando Alto”, lançado pela Netflix. O filme mistura imagens da infância de Scott, filmagens do começo de sua carreira até alguns meses após o lançamento de “Astroworld”, seu terceiro álbum de estúdio. 

O enredo do longa gira em torno da relação do rapper com o parque de diversões homônimo que existia em sua cidade natal, Houston, e do processo de criação do disco.

A contribuição de Drake foi a última adicionada a “Sicko Mode”, mas a faixa tem pelo menos outras sete. Ela conta também com vocais adicionais de Swae Lee, rapper da dupla Rae Sremmurd que apareceu no último disco de Anitta.

A batida, que muda ao menos três vezes ao longo de cinco minutos, foi criada por seis produtores diferentes —entre eles, Hit-Boy, Tay Keith e Mike Dean.

As outras 16 faixas do álbum seguem o mesmo caminho. A primeira, “Stargazing”, não tem participações vocais mas foi produzida por quatro artistas diferentes e conta com oito nomes, além do de Scott, em seus créditos de composição.

A improvável “Stop Trying to Be God” junta os vocais de James Blake à gaita de Stevie Wonder numa faixa produzida por Scott, Dean e J Beatzz. “Skeletons” foi composta com a ajuda de The Weeknd, Kanye West e Pharrell Williams e produzida por Kevin Parker, da banda australiana de rock psicodélico Tame Impala.

O filme documenta os encontros e discussões de Scott com alguns desses músicos durante as sessões de estúdio de “Astroworld” e mostra até que uma das faixas do álbum era originalmente de outro músico —“Can’t Say”, composta por Don Toliver, protegido e conterrâneo do rapper.

O processo de composição mostrado em "Voando Alto" se assemelha ao que o pesquisador Sérgio Molina chama de composição coletiva. Molina estudou, ao longo do doutorado, a composição da música popular cantada.

A ideia é a de que todos os que participaram da criação de um determinado fonograma (músicos, cantores, produtores, engenheiros de áudio) são também compositores porque “criaram uma sonoridade que só eles têm, que é particular sempre”, diz Molina. “E essa composição envolve um maestro, um curador. O líder do disco é que resolve quem participará ou não.”

O processo de “Astroworld” põe Scott, então, como uma espécie de artista-curador. Além de participar da composição e produção das faixas, ele também teve o papel de fazer os convites aos músicos e produtores que fizeram do álbum o que ele é.

Travis Scott começou a carreira como um pupilo de Kanye West, também conhecido por orquestrar seus álbuns e contar com inúmeras participações e colaborações —o maior exemplo disso é “The Life of Pablo”, de 2016.

Já o veterano de gravadoras DJ Khaled ficou conhecido por lançar álbuns em que ele não produz ou interpreta, só convoca outros artistas como Beyoncé, Cardi B e Justin Bieber para que eles trabalhem entre si, como fez em “Father of Asahd”, lançado em maio deste ano.

No Brasil, o processo é comum na música pop e o papel de curador fica, em geral, na mão do produtor artístico. Assim funciona o grupo Dogz Produção Musical, formado por Ruxell, Pablo Bispo e Sérgio Santos, que produziu o disco “Dona de Mim”, de 2018, de IZA, e os singles mais recentes de Gloria Groove.

“A gente não costuma dividir funções, nosso processo é muito colaborativo”, diz Ruxell. Ele também conta que o artista do álbum participa de todo o processo dentro da produção, mixagem e masterização, que também é feita pela Dogz. “Basicamente, cada um faz um pouquinho de tudo.”

Na visão de Ruxell, o processo de composição coletiva tem como maior mérito acrescentar personalidade ao trabalho do artista. “Ao mesmo tempo em que a música popular é muito aberta, ela tem muita personalidade. Você consegue misturar tudo e trazer uma coisa muito particular”, diz. “No final de tudo, essa vitamina vai ser a representação de cada artista.”

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