Um videogame sem ação ou um novo número de “Velozes & Furiosos” filmado de modo desdramatizado são descrições possíveis para “Jessica Forever”.
De fato, o primeiro longa da dupla Caroline Poggi e Jonathan Vinel é um daqueles objetos conceituais que pululam em festivais de cinema contemporâneo e que recebem muita atenção dos caçadores de novidades, antes de serem esquecidos para sempre.
As fontes nos créditos, os figurinos e os adereços sugerem uma estética de "heroic fantasy”, enquanto a história de uma comunidade que protege órfãos isolados da sociedade insere o filme na atual onda de distopias.
A reinvenção contemporânea das identidades também marca presença na centralidade de Jessica, figura matriarcal que lidera um grupo só de homens belos e musculosos.
Eles treinam, combatem um exército de drones, alguns são abatidos como em todo filme de ação. Mas, em vez de glorificar a força ou a resistência, a dupla de diretores valoriza o que esses corpos sólidos têm de frágil, mostrando suas feridas, o sangue, a fadiga.
O uso de efeitos especiais também é feita em sentido contrário ao dos blockbusters de ação. Enquanto nestes, os efeitos são espetaculares, chamam a atenção para a capacidade de a tecnologia produzir perfeição, os efeitos em “Jessica Forever” são assumidamente amadores e inconvincentes.
Porém, a estratégia de se apropriar de um modelo hegemônico para renegá-lo tem fôlego curto. A extrema estilização dos planos reforça a impressão de que o filme é uma sucessão de imagens sem conteúdo, um alinhavo de músculos tensionados, de ações enigmáticas e de rarefação narrativa inspirada no cinema de Claire Denis, mas longe da capacidade sugestiva da veterana cineasta francesa.
O intelectualismo ainda muito influente em uma parcela do cinema francês compromete as ambições de “Jessiva Forever”. A meio caminho entre filme de ação reflexivo e cinema- ensaio estilizado, o longa torna-se apenas um objeto teórico de pouco alcance.
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