Mostra de São Paulo reflete clima de incerteza com programação mais enxuta

Falas de organizadores evocam embates entre atual governo e cultura e seleção busca filmes com 'DNA brasileiro'

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São Paulo

Resistência foi a palavra de ordem na apresentação da 43ª Mostra de Cinema de São Paulo, que aconteceu na manhã deste sábado (5), no Espaço Itaú Augusta. O evento, que concorre com o Festival do Rio pelo título de maior festival cinematográfico do país, acontece de 17 a 30 de outubro.

As falas da diretora do evento, Renata de Almeida, do secretário de Cultura de São Paulo, Alê Youssef, do presidente do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda, e da presidente da Spcine, Laís Bodanzky, ecoaram o clima de incerteza financeira e de censura enfrentada pela cultura no país nos últimos tempos.

Cena do filme 'Parasita', de Bong Joon-ho
Cena do filme 'Parasita', de Bong Joon-ho - Divulgação

“Pareceu muito importante marcar uma espécie de resistência pró-ativa”, disse Youssef. “É uma maneira de apostar na civilização contra a barbárie e de levantar uma bandeira contra a censura, contra esses ‘filtros’ que estamos vendo em todas as áreas”, afirmou.

“Realizar essa mostra é acreditar em uma São Paulo muito mais modernista do que bandeirante.”

Apesar da atmosfera pessimista e do corte de cerca de 20% do orçamento, com a retirada do patrocínio da Petrobras, Almeida afirma que conseguiu montar uma programação “surpreendentemente forte” nesta edição.

O total de 304 títulos —número que ainda pode aumentar até o início da mostra— é cerca de 10% menor que o de 336 do ano passado.

Mas filmes aclamados em Cannes integram a programação, como “O Paraíso Deve Ser Aqui”, de Elia Suleiman, e “O Farol”, de Robert Eggers (de “A Bruxa”), exibido no Auditório Ibirapuera com direito a masterclass, além da exibição do vencedor da Palma de Ouro, “Parasita”, informação adiantada pela Folha.

Outros destaques incluem a vinda do israelense Amos Gitai ao país e uma retrospectiva do francês Olivier Assayas. O crítico Rubens Ewald Filho, morto em junho deste ano, ganha uma homenagem com a exibição de “O Mágico de Oz”, um de seus filmes favoritos, no vão livre do Masp.

Os conflitos entre o governo e o setor cultural ainda se refletiram em uma seleção de filmes que, segundo Almeida, priorizou o “DNA brasileiro”.

Daí a escolha de duas produções com nomes brasileiros em suas equipes, “Wasp Network”, de Olivier Assayas, e “Dois Papas”, de Fernando Meirelles, para abrir e fechar a mostra, nesta ordem. Outros títulos nacionais protagonizam pela primeira vez “noites de gala” no Theatro Municipal —“Abe”, “Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, “Três Verões” e “A Vida Invisível”, indicação do Brasil para o Oscar de filme em língua estrangeira. 

Além disso, quase 90 filmes exibidos são produções ou coproduções brasileiras.

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