Descrição de chapéu
Livros

Temos que navegar com sabedoria em um mundo repleto de conteúdo

Eu fico maravilhada em pensar que as pessoas hoje podem ouvir 'Macunaíma' pelo celular

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Bia Alves

Eu moro sozinha em um apartamento de 47 m² com livros, discos e cinco caixas de som, além do fone de ouvido que não sai do meu pescoço, como um colar. Tem sempre um podcast ou um audiolivro tocando. 

Se você não acredita em uma millennial de 31 anos, tem muita pesquisa comprovando que não sou a única. No Brasil, até a maior emissora de TV resolveu gerar conteúdo em áudio.

Na última Primavera Literária, em outubro no Rio de Janeiro, falei com o Zacarias, um professor de escola pública de uns 70 anos. Passeando, ele ouviu nossa roda de discussão sobre podcasts e ficou intrigado para saber mais, escutar conteúdo em áudio e, quem sabe, ter seu próprio podcast.

Fone de ouvido para Ilustrada Jairo Malta
Jairo Malta

O audiolivro nos Estados Unidos é a mídia digital que cresce mais rapidamente no mundo literário. E dá para perceber como o Brasil está querendo ser grande nesse negócio, com, por enquanto, três empresas brasileiras, uma sueca e outra canadense —além de muitos rumores de que novos concorrentes ainda surgirão e começarão a vender livros em áudio antes que 2019 encerre mais uma década. 

Eu fico maravilhada em pensar que as pessoas hoje já podem ouvir “Macunaíma” pelo celular. Também “Game of Thrones”, um livro de contos da Bianca Santana, uma história infantil com os filhos, treinar os ouvidos com um romance em inglês. Escovar os dentes ouvindo notícias ou escutar uma roda de conversas sobre depressão ou coletor menstrual enquanto lavam a louça. 

Ler livros é uma experiência muito solitária, mas o conteúdo em áudio pode ser consumido no metrô, em casa, no carro... Na maioria das vezes, a preferência é ouvir enquanto se faz alguma outra atividade 
—e eu amo essa sensação de produtividade dobrada. 

Já pensou na intimidade que é ouvir a voz de alguém entrando pelos ouvidos, escutar sotaques diversos e uma risada contagiante, chorar com algum relato, ter aquele arrepio que te faz acender a luz do quarto? Até hoje fico aterrorizada ao ouvir o Tony Ramos porque ele narrava a bruxa na história da Branca de Neve no meu vinil laranja que tenho até hoje como lembrança do meu primeiro audiolivro.

O que mais ouço é amigo dizendo que não consegue se concentrar com conteúdo em áudio. Eu rebato: mas você está com dificuldade de se concentrar de modo geral? A resposta geralmente é um acuado sim. A informação chega de todos os lados, na TV, nas redes sociais, em séries. Vamos ter que aprender a navegar com sabedoria nesse mundo que tem mais conteúdo do que podemos consumir em três vidas. 

Mas me permite uma sugestão? Começa dando um play em um podcast curtinho, sem compromisso. Você vai ver, logo logo estará partindo para 12 horas de audiolivro e, no fim do mês, vai estar totalmente entregue ao vício —assim como eu, dando play antes de abrir o chuveiro, sem uma louça suja na pia.

Bia Alves é gerente de vendas da HarperCollins Publishers Estados Unidos e Inglaterra e integrante do podcast As Desqualificadas  

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.